quarta-feira, 3 de abril de 2013

ADRIANO NUNES DUAS VEZES

O GATO
Para Ferreira Gullar

Vive o gato de ver
O  novelo a envolvê-lo,
Pata, dente, unha, pelo,
Aos pulos, num pulôver.

Vinga o gato: miado
Alto, salto mortal
Do sofá pro quintal,
Atrás de rato, alado

Feito pássaro.  Vive
O gato pelo teto,
Todo solto, inquieto,
Bicho sem nicho, livre.

Sem rumo, pelos muros
Equilibra-se.  Atento,
Eriça-se – Rebento
Dos agouros obscuros

Da crença.  Pinta o sete:
Que encrenca! Rouba a cena
Nessa lida pequena.
As vidas? São só sete!

ilustração Talarico
UM EU QUALQUER
            Para Antonio Cícero

dentro da gente
há muitos, tantos,
que o pensamento
pode sequer
bem calcular.

o que se sente,
quem sente? canto-os
e assim me invento,
um eu qualquer,
sem rumo ou lar.

dentro da gente
há vários... quantos?
neste momento,
um outro quer
se revelar.


Laringes de grafite.  Porto Alegre: Vidráguas, 2012. 

4 comentários:

  1. Que bom conhecer teu blog, que bom estar entre amantes de poesia.

    Um abraço Roberto

    Carmen - Vidráguas!

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    1. Carmen,

      que bom que você gostou; espero que visite com frequência.

      Um abraço do
      Roberto Bozzetti

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  2. Caríssimo Bozzetti,


    obrigado, muito obrigado, amigo estimado! Viva!



    Adriano Nunes

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    1. Adriano querido,

      eu é que agradeço os poemas que você escreve e publica, pois dá sempre oportunidade de a gente desentranhar das palavras falsificadas do mundo uma poesia verdadeira.

      Grande abraço do
      Roberto Bozzetti

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