segunda-feira, 21 de setembro de 2015

AUGUSTE STRAMM (1874-1915)


CASA DE PRAZER







Luzes meretrizam nas janelas
A doença
Roja-se à porta
E conclama gemidos de mulher!
Almas femininas enrubescem risadas agudas!
Colos de mães bocejam filhos mortos!
O não nascido
Fantasmambula
Volátil
Pelo espaço!
Medroso
Num canto
Envergonrevolroído
Enrosca-se
O sexo!

 
                                           Tradução de Haroldo de Campos

 

 

In: Haroldo de Campos. A arte no horizonte do provável. 2 ed. SP: Perspectiva, 1972.

domingo, 13 de setembro de 2015

AH, UM SONETO... DE MÚCIO TEIXEIRA (1857-1928)


POMBAS E FRUTAS

 

Vem-se a primeira moça, envergonhada,
Vem-se outra mais, mais outra... enfim dezenas
De cabaços se vão, vindo-se apenas
Sentem na vulva a rija caralhada.

E à noite, quando a porra envernizada
Deixa em brasas a crica das morenas,
Roçam pelos colhões, quais leves penas,
Os fios dos pentelhos em revoada.

As bimbas no prepúcio se abotoam;
Os beiços pelos seios roçam, voam,
Como voam as pombas nos pombais...

Os que fodem demais, ficam fodidos;
Mas, se a foda nos deixa sem sentidos,
Tome sentido o que foder demais

 
In: Eliane Robert Moraes (org.). Antologia da poesia erótica brasileira.  Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015.
Ilustração de Talarico
 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Um poema magistérico para a data


PARADA

 

enfrentar
a fúria do guarda
e salvaguardas

           a verga do governador
            a prensa e a imprensa
           dos empresários
            dos sub sub sub
           e secretários

 a ira
           dos pais

os torpedagogos

amar
os alunos
essa parada

na avenida

foda-se ou
faça sol.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

DUAS DAS CRIANÇAS


CHÃO DE GUARDA

 

Infância. Tíbias cruzadas recém
escapulidas dos dentes
do guarda

(Nem sempre é
que se escapa
de um cão
de guarda. Guardar
bem esta lição.

Pra vida toda.
Que aliás não há
de durar. A conta
é subtrair. Não
se mexa  aí onde
se acomodou. Não 
respirar.)

Adivinha-se então
entre as tíbias, nas mãos
outros olhos sãos
e o que eles
aguardam:
 
água de chão
pano de chão
gosto de chão
chão de guarda.

Enquanto se  aguarda:
infâmia
salsicharia transgênica
sabão obesa
magra infância
carniça de criança.


Talarico - da série "Os invisíveis"

 


(O poema acima foi postado originalmente em Mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea, em 9 de dezembro de 2013, com o título "Na esquina do beco ou em qualquer lugar", a partir de uma outra ilustração de Talarico, de sua série "Os invisíveis".)  Confira-se no link http://www.mallarmargens.com/2013/12/poema-de-roberto-bozzetti.html



CRIANÇA À BEIRA MAR

 

que diferença faz?
um apenas  

e eles são
milhares – não vale a pena

um e nem
ficou ali para sempre
daqui a pouco não mais estará
refugiados são fugazes
 
e não
sabemos de detalhes nem
do potencial perigo para
nós

nós que não fugimos é que somos
estáveis nós é que nos fundassentamos
sobre bases imutáveis
como uma grade de programação
como um cronograma como a árvore
ou como o  continente
de onde provimos
 
como uma igreja secular
banco infenso às areias movediças
do deve e do haver
 
a carcaça foi recolhida rápido
que nem os abutres
nem mais poéticas aves
vieram provar de seus
olhos
vieram provar de seu
pequenino sexo inerte
e ímpio – que sabor teria?

perguntaram-se as gaivotas e cormorões
 
ele é um de eles e são milhares e seguem plurais e zeros
contam-se às dezenas às centenas aos milhares
e dezenas e centenas de milhares
e ele é apenas um

no vietnam também era apenas
um
em toda a áfrica
é apenas
um
na palestina na américa central
no oriente próximo ou distante
apenas
um
no acampamento sem-terra
na cracolândia
outrora há muito na europa apenas
um
sempre foram apenas
um
seguirão sendo apenas
um
                                               
são eles
eles são muitos e de sua pena
sabemos que são refugos
em  busca
de refúgio
 
desafortunadamente num resort.