Esta estação do ano podes vê-la
em mim; folhas caindo
ou já caídas;
ramos que o frêmito do frio gela;
árvore em ruína, aves despedidas.
E podes ver em mim, crepuscular,
o dia que se extingue sobre o
poente,
com a noite sem astros a anunciar
o repouso da morte, gradualmente.
Ou podes ver o lume extraordinário,
morrendo do que vive: a claridade,
deitado sobre o leito mortuário
que é a cinza da sua mocidade.
Eis o que torna o teu
amor mais forte:
amar quem está tão
próximo da morte.
(dos “Sonetos de Shakespeare reescritos em português”)
In: Carlos de Oliveira. Trabalho poético (primeiro volume). Lisboa: Sá da Costa, s/d.
Ilustração de Talarico |
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