A VAMP
A
camisinha de rendas
Que
usavaA irmã que morreu de amor.
Ligas misturadas
Antes da paixão
Com uma lata de talco
E um retrato de Nossa Senhora
Construído com borboletas.
Uma flauta no cabide
Fez a guerra do Paraguai
Quando não havia petróleo
- Pertenceu a meu avô –,
A dama chegou no tufão,
Vestida de dominó
Despe o dominó
Tem quatro braços
Traz a vertigem
Está com febre
Me pega o amor
Tem quatro braços
Não posso mais
Quatro sovacos
Aí vem a manhã
Clareia o quarto
Allegro aleluia
Allegro da Aurora
O sol ilumina
O mundo sem amor.
"Mulher sentada com ramo de flores", Ismael Nery, 1927 |
FIM E PRINCÍPIO
Espírito
pavoroso do século,
Não
te dedicaria pianosNem harmonias de sirenes
Se os demônios não quisessem.
Entretanto chora o mar,
Choram noivas, peixes, mães,
Desde o princípio do mundo;
Apitos de máquinas levarão
Desde o pólo ao equador
Até o final dos tempos
Lamentações de novilhas,
De cegos, órfãos e plantas.
Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Nova Aguilar, 1994.
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