O inquieto, criativo, superativo - numa palavra, MULTI - chapa Felipe Ivanicska, lá das Minas Gerais, anda aprontando com textos meus. O que só posso agradecer. Aqui ele trabalhou em vídeo dois poemas do meu Despreparaação para a morte (Rio: Texto Território, 2017), cujo resultado, para mim excepcional, posto agora, junto com os textos.
Em tempo: a voz leitora é de Carlos Tuviequizal, a quem só posso parabenizar e agradecer.
HOJE É QUINTA
Hoje é quinta, amanhã é menos,
súbito a conta é subtração.
Enquanto vivemos, a ponta
da seta sempre aponta
em nossa direção:
É o de somenos
é um truísmo
rebarba que redonda
mente ao nosso medo
de dissipação. O diapasão
dá a nota rombuda
que o ouvido não capta
- melhor: capta e deixa
vazio, eco ao fim
de fundo sem som.
Célere não percebemos
o quanto o tempo
desacelera e o que a espera
não cumpre e fica
baldio, resquício
quintal dos fundos
caco de entulho
quarto imprestável
onde se adentra
só pra saber
que não se encontra
o que faria falta
se não fosse menos.
Amanhã é menos
hoje é quinta
de ontem não lembraremos.
AUTO
a última
auto-
-ironia
o último
no esgar
do auto-
-engano
sorriso
ao perceber
o erro de
cálculo
e lembrar
do anjo
perverso
ausente
no banco
vazio
do carona
Lindos!
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