quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FIRMA IRRECONHECÍVEL, SÉTIMO SEGMENTO



Rabo alegre de cachorro
acena mas não assina,
cicatriz de navalhada
assina pra todo o sempre,
assina quem regras caga
por saber que se apaga
o testemunho da estultice
vaga e tola da assinatura,
e quer desfazer vestígio
em pregas que mal limpou
das regras que inventou
quando apenas suspeitava
da vaguidão que dissera,
prestígio de chocolate,
tolice, abobrinha, asneira,
e virou juiz de juízo,
cachorro de muito siso,
formador de opinião,
crítico consagrado em
seu penico sentado,
todo um supositório
em nome de belazarte
se diz porta-voz e
parte pra dar o seu pa-
recer, sendo assim é o
focinho que avisa ao res-
to do corpo se é boa a
merda que cheira que nem
ração de primeira, o corpo
come e se regala e enquanto
come invade a sala per-
fume de frasco sublime
crime de fetidez pra fo-
cinho de caga-regra,
cachorro kitsch, críti-
co brega sebento de cor-
po inteiro, canaz de gran-
de sabença abençoa a
patuléia e quem discor-
dar na platéia ponha
entre as pernas o rabo
se não quiser levar o nabo
comprado pela alcatéia.
Vale um pouco a assinatura
do sujeito otimista,
que no geral como foi dito
assinatura vale nada,
autêntica ou falsifi-
cada um sabe da sua
e se não souber não muda
o tudo que a nada anula,
anum preto dá em pasto,
e não dá trégua a carrapato
o branco é alma-de-gato
e não consta assombrar rato,
assum preto dá em baião,
o branco noutro teclado
da sanfona pro piano,
partitura em espantalho,
alma penada é corvo
me enervando com Lenora,
certidão de edipiano reco-
nhecida em oráculo,
esboceto com rasura
para acesso de risada,
cicuta com pouco açúcar
para excesso de gordura,
adoçante com dois ss
pra enchimento de lingüi-
ça na tripa forra forrada,
vaselina é parafina de baixo
ponto de fusão, se usa
pra atochar calão como se
enálage fora, quem ouve
vozes e assina bobagem
estupigrafada psico-
grafa escritor de valor
morto e enterrado de quando
infante canhestro estuda-
va na escola primária
com trovinhas e gra-
cinhas cheias de bons
sentimentos em versos de
péssima safra, mens sana
em pé quebrado, alma analfas-
sombrada, que nem ra-
bo de cavalo depois de
desencarnado o seu talento
vai crescendo igual poço
em busca d’água.

Firma irreconhecível. Oficina Raquel, 2009.


Aos possíveis interessados, o fragmento anterior do poema pode ser acessado pelo link http://robertobozzetti.blogspot.com/2011/08/firma-irreconhecivel-sexto-segmento.html
Ali estão também os links para os segmentos anteriores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário