BLACKOUT
Passo a noite
a escrever.
Do lado de lá
da rua
poderia alguém
me ver,
daquele
prédio às escuras,
em frente ao
meu,e mais alto.
Que voyeur me espiaria?
De
interessante, só faço
escrever. Ele
veria
decerto a
parte traseira
do
computador: talvez,
daquela outra
janela,
avistasse, de
viés,
o lado
esquerdo da minha
face de
perfil: jamais
entretanto
enxergaria
certos versos
de cristal
líquido, que
mal secreto
com o sal do
meu suor,
já anunciam
segredos
só meus e de
algum leitor
que
partilhará comigo
o paraíso e o
desterro,
o pranto que
vem do riso,
o acerto que
vem do erro.
Disso tudo,
meu vizinho
nem de longe
desconfia.
Mas e se ele,
tendo lido
meus lábios,
que pronunciam
o que na tela
está escrito,
perceber-se
desterrado
não só do meu
paraíso:
do meu
desterro, coitado?
E se ele a
tudo atentar
e por inveja
e recalque
me der um
tiro de lá?
Melhor fechar
o blackout.
Antonio
Cícero. Porventura. Record, 2012.
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