Está certo, Pelé não se chamaria Pelé, ou melhor, talvez até se chamasse Pelé, mas o fato é que Pelé não conheceria essa glória desmedida, esse martelar insistente do nome e da grife Pelé, Pelé – observe que não quero entrar no mérito de tal glória, para mim é na verdade indiferente – teria sido no máximo, quando jovem – agora ninguém seria capaz de dizer o que ele seria – um homem livre para entreter a gente com suas habilidades com a bola nos pés e na cabeça, enfim, em todas as partes do corpo que se lhe nos aprouvesse.
Assim também, digamos, o Anderson Silva seria um ótimo segurança para cuidar de nossos filhos, quem não ficaria sossegado mandando seus pimpolhos para a escola sob sua guarda, quer dizer, creio que a sociedade como um todo teria como ter criado condições para que esse gladiador espetacular tivesse podido desenvolver seu potencial em favor dela, sociedade, e não de seus instintos bestiais. E de seu bolso.
Claro que um Gilberto Gil desses jamais teria chegado a ministro, mas até que seria agradável que seu talento se desenvolvesse a ponto de animar nossas recepções sociais – mas sem esse Martinho da Vila sentado no nosso sofá da sala – assim como um Milton Nascimento – ótimo num coral de igreja! –, esse Luiz Melodia e tantos outros Djavans, que aprenderiam a cantar com os curiós dos nossos terreiros sob os alpendres, como os Cartolas, os Candeias, os Ismaéis...
É, tem ou tinha, né, o Milton Santos, tinha o Abdias, o Solano Trindade, tem o Muniz Sodré, mas se não tivessem dado tanta a asa a Zeca Patrocínio, André Rebouças e outros, Zeca Pagodinho não teria nem atravessado o Rebouças...
Dia bom pra comungar hoje.
Foto New York Times |
Gostaria de agradecer por tamanha sensibilidade e bom senso-este, que nos falta quando entramos, talvez meio que forçosamente por ocasião da consciência negra, nesse caminho ou noutra circunstância da vida. A Forma, imparcialidade e experiência (vivida como informativa) mantém um fato em evidência: de que nós mesmos traçamos nosso futuro hoje e só depende de nossas escolhas, sejam elas difíceis ou não. Uma mente elevada com toques bem sutis. Obrigada!
ResponderExcluirObrigado, Cláudia. Um beijo
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