Jardim do Luxemburgo - Giuseppe de Nittis óleo sobre tela |
MADEMOISELLE
“Rien de plus beau que Paris”
(proverbio)
Fujamos, vida e luz, riso da minha terra,
Sol do levante meu, lírio da negra serra,
Doce imagem de azuis brandos formosos olhos
Dos róseos mares vinda à plaga dos abrolhos
Muita esperança trazer, muita consolação!
Virgem, do undoso Sena à margem vicejante
Crescendo qual violeta, amando qual errante
Formosa borboleta às flores da estação!
Partamos para Auteil, é lá que vivo agora;
Vê como o dia é belo! ali há sempre aurora
Nas selvas, denso umbror dos bosques de Bolonha.
– Ouve estrondar Paris! Paris delira e sonha
O que realiza lá voluptuar de amor –
Lá onde dorme a noite, acorda a natureza,
Reduz a flor na calma e os hinos da devesa
Ecoam dentro d’alma ais de pungido ardor.
Aos jogos nunca foste, às águas de Versailles?
Vamos lá hoje!... ali, palácios e convalles
Do rei Luís-catorze alembram grande corte:
Maria Antonieta ali previa a sorte
Dos seus cabelos d’ouro em ondas na bérgère. –
Tu contarás, voltando... inventa muita coisa,
Prazer de velhos pais, – que viste a bela esposa
Das feras! com chacais dançando La Barrère!
Oh! Vamos, meu amor! costuras abandona;
Deixa por hoje o hotel, que eu... deixo a Sorbona –
E fugitivos, do ar contentes passarinhos,
Perdidos pela sombra e a moita dos caminhos
Até a verde em flor vila Montmorency!
De lá, és minha prima andando séria e grave;
Entramos no portão: eu dou-te a minha chave
E sobes, meu condão, ao quarto alvo e joli!
Hesitas? ou, senão, sigamos outra via;
Do trem que vai partir a válvula assobia,
O povo se acumula, aqui ninguém a ver-nos:
Fujamos para o céu! que fosse pr’os infernos
Contigo... – “oui” –. Não deixes estar teu colo nu!
Há gente no vagon... sou fúria de ciúme –
Desdobra o véu no rosto... olhos com tanto lume... –
Corria o mês de agosto; entramos em Saint-Cloud.
In: ReVisão de Sousândrade (org, Augusto e Haroldo de Campos). 1982
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