: arquitetura.
um verso no qual se entre
e ao sair se esteja no mundo.
nada no entanto que pareça
um túnel; mas adro, claro
que sem igreja: e claro.
átrio. passagem, certo, mas
perguntei: para se entrar ou
sair? ilusão, ele me disse,
e me disse: astrolábio
e perguntou: o que sabe
você de galápagos? e do
monte appaloosa? e de jogos
malabares? mas eu já não
ouvia, pois eu me perguntava
o que tinha aí de arquitetura.
: travessia.
sentamo-nos, um pouco
à maneira presumida
de riobaldo. riobaldo,
ele prosseguia, ao fim
de sua travessia foi ao claro
do escuro ou chegou ao escuro
do claro? e aonde teria
chegado não fosse a um
átrio, de onde se divisa
o deslimite, o viés do vero
caminho? não do atalho,
não uma vereda, mas a
vereda, aquela que ali
através da qual ninguém
chega, e é só travessia.
: aventura.
entrar num verso baldio
e sair no mundo, nunca
se sabe, mas perseverar
que haverá o mar e neste
a arquitetura e nesta
a travessia e esta apenas
começa aqui, e riobaldo,
ele me disse, bem o sabia.
foi quando calou-se e eu
permaneci mudo fermato.
balbuciei: seria então
desde o começo... – não há
começo, interrompeu-me,
– não me detive – , seria
então tudo arquitetura?
e ele: ilusão.
crença e descrença dependem
de em quem se infundem,
ele retomou com segurança,
e disse mais, tudo vem da
arquitetura, a ilusão
de se habitar no construído
como se não, como se fosse
de importar se se entra ou
se sai, aqui a ilusão é
a da travessia, mas não
uma ilusão de logro, e sim
de espessura, de carne
como não se diria a carne.
ilusão. por isso ao atravessá-la
a chamam alma: ilusão.
: aventura.
perguntei: e o astrolábio?
e galápagos? e malabares?
appaloosa? ilusão?
aventura? travessia?
não, me disse ele: sons
os sons que se ouvem no adro
e pelos quais ao mundo
pode ser que vamos
ou só polissilábicas
despistas, despistes
do verso e do vero
da lábia e da sílaba, caro
agora figuro: ponto.
arquitetura – estás
pronto ao sumidouro.
: reverso
não, eu disse, não quero
o sumidouro, quero a borda,
melhor, o bordado amanhecer
quero – ele de novo
quero – ele de novo
me interrompeu: então,
o cemitério é o que você
quer. o adro, não de igreja
mas de cemitério, do cemitério
a última ilusão, a fenda,
a calcinação. e eu:
então o verso que leva
direto ao mundo leva ao
fim quando dele se sai,
de novo o fim no começo
o começo fim dos tempos,
tédio: adeus.
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