POEMA EXPULSO
as palavras
abrem falência
e os
minutos duram os dias
eu vou de
novo
pra dentro
dos engarrafamentos
terei
cuidado com o menino
assim
também com seu carrinho
dou a mão e
atravesso o vento
a fuligem a
zombaria o desmantelo
chegamos do
outro lado
com o apuro
dos sonâmbulos
sonho o
relento e o ninho
sonho no
meu pesadelo
(meu
glorioso São Cristóvão
portador de
Cristo, intercedei por nós)
outro dia
que me vi
andando
como há muito tempono zumbido dos zumbis
no prumo do meio-fio
a cidade me
especula
cheia de
pretos bonitos
tenho medo
do minuto, do milênio
do eterno e
de certas nucas
tenho medo
da pele e de farpas
de vidros
que o corpo expele
também de
expelir silêncio
no tráfego
das palavras
uma cidade
estrangeira
me aguarda
sem pressame guarda sem receio
compro a
passagem e sigo
mas rumo ao
engarrafamento?
vendo a
vida e volto?
que
portugal ou espanha
me seduz
com seus arabescosesguias ancas omoplatas abismos
de negros pentelhos?
que letra
zomba ainda
de fora do
desassossego?
que s ou f
me falha
me salga? –
tudo é fascínio
dentro de
todo perigo
o mesmo que
sou me guarda
de como
antigamente
o mesmo
engarrafamentosúbito me expele – cuido
do meu menino, penso tê-lo
perdido perdido no movimento
de irevir,
vindo sempre vindo
no indo, no
v, no verir
letras riem
das palavras
(nem
poderia ser diferente)
letras não
fissuram a urgência
nem o frio
nem o ardordo instante seguinte à fala
letras são
toda potência.
Inda assim
melhor não dizê-lo
quanto ao
amor, a tela onde
tecê-lo
será dada de súbito.
In: A tal
chama o tal fogo. Oficina Raquel,
2008.
Ilustração de Talarico |
Gostei muito. Parabéns!
ResponderExcluirQue bom, Karen! Obrigado.
ResponderExcluirUm beijo do
Roberto Bozzetti