O ANJO ESQUERDO DA HISTÓRIA
os
sem-terra afinal
estão
assentados napleniposse da terra:
de sem-terra passaram a
com-terra: ei-los
enterrados
desterrados de seu sopro
de vida
aterrados
terrorizados
terra que à terra
torna
pleniposseiros terra-
tenentes de uma
vala (bala) comum:
pelo avesso afinal
entranhados no
lato ventre do
latifúndio
que de im-
produtivo re-
velou-se assim u-
bérrimo: gerando pingue
messe de
sangue vermelhoso
lavradores sem
lavra ei-
los: afinal com-
vertidos em larvas
em mortuá-
rios despojos:
ataúdes lavrados
na escassa madeira
(matéria)
de si mesmos: a bala assassina
atocaiou-os
mortiassentados
sitibundos
decúbito-abatidos pre-
destinatários de uma
agra (magra)
re (dis)(forme)forma
− fome − a-
grária: ei-
los gregária
comunidade de meeiros
do nada:
enver-
gonhada a-goniada
avexada
− envergoncorroída de
imo-abrasivo re-
morso −
a pátria
(como ufanar-se da?)
apátrida
pranteia os seus des-
possuídos párias −
pátria parricida:
espada flamejante
do anjo torto da his-
tória cha-
mejando a contravento e
afogueando os
agrossicários sócios desse
fúnebre sodalício onde a
morte-marechala comanda uma
torva milícia de janízaros-já-
gunços:
somente o anjo esquerdo
da história escovada a
contrapelo com sua
multigirante espada pó-
derá (quem dera!) um dia
convocar do ror
nebuloso dos dias vin-
douros o dia
afinal sobreveniente do
j u s t o
a j u s t e de
contas
Haroldo
de Campos. Crisantempo: no espaço
curvo nasce um. Perspectiva, 2004.
Que maravilha! Quando leio um poema assim, fico me questionando meu ato de escrever. De que vale a poesia se ela não for uma "pedra no meio do caminho"?
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