Iberê Camargo (foto de Fabio Del-Re) |
Muitas vezes, ao poente, a minh’alma de enfermo
É triste: o enterro passa, os vultos vão, de tochasQue tremeluzem como estrelas rubras, do ermo
De um céu que se prolonga entre montes e rochas.
Segues naquele esquife, um anjo vem dizer-mo.
Uma essa erguida no alto, enfeitada de frouxasCortinas de galões amarelos, é o termo
Do caminho talhado entre açucenas roxas.
Triste sonho de quem vive a sonhar na vida
Com a eterna e doce paz de uma cova esquecida,E traz no peito morto uma alma quase morta...
Suplício imemorial de quem estando vivo,
A receber no olhar todo o céu compassivo,Vê passar o seu próprio enterro pela porta!
Alphonsus de Guimaraens. Melhores
poemas. 4 ed. SP: Global, 2001.
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