Ilustração de Talarico |
1.
certas coisas é melhor olhar de longe
ver pela janela distantever pelo semáforo com pressa
ver pela fresta fria da noite
ver pelo meio no lusco-fusco
ver sem ver, fazer que ver
2.
ver pela televisão o resto do mundo
ver nas vitrines o resto das coisasver nos cabides das lojas
o resto das roupas
ver o corpo frio do filho
viu o fiapo da teia
e na ponta o insetolutando para viver
o corpo emaranhado
quanto mais preso
mais se debatia
pensou um salvar o bicho
lidou com o fio pegajosoe o animal caiu
mas não voou
já estava dentro da morte
e não sabia
saiu cedo para a missa
todo mundo dormia, só viu cãesfarejando esquinas de casas
pardais em bandos e outros pássaros
festejando juntos aquele dia de Natal
esperou que a dor parasse
quieto num cantoninando o membro roto
esperou que o vissem gemer na noite
que o ouvissem morrer na noite
como via um gato
miar de fomese definhar
virar pelo e osso
Deus devia de vê-lo
Vera Lúcia de Oliveira. O músculo amargo do mundo. SP: Escrituras, 2014.
Obrigada Roberto!
ResponderExcluirUm abraço grande da Italia,
Vera
Eu é que agradeço a excelência dos poemas, Vera!
ExcluirGrande abraço
Bozzetti