quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

QUATRO POEMAS DE CACASO (ANTONIO CARLOS DE BRITO)

AS APARÊNCIAS REVELAM

Afirma uma Firma que o Brasil
confirma: “Vamos substituir o
Café pelo Aço”.

Vai ser duríssimo descondicionar
o paladar.

Não há na violência
que a linguagem imita
algo da violência
propriamente dita?


FATALIDADE

A mulher madura viceja
nos seios de treze anos de certa menina morena.
Amantes fidelíssimos se matarão em duelo
Crepúsculos desfilarão em posição de sentido
o sol será destronado e durante séculos violas plangentes
farão assembléias de emergência.

Tudo isso já vejo nuns seios arrebitados
de primeira comunhão.


BUSTO RENASCENTISTA

quem vê minha namorada vestida
nem de longe imagina o corpo que ela tem
sua barriga é a praça onde guerreiros se reconciliam
delicadamente seus seios narram façanhas inenarráveis
em versos como estes e quem
diria ser possuidora de tão belas omoplatas?

feliz de mim que freqüento amiúde e quando posso
a buceta dela


JOGOS FLORAIS
I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.

II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.

Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.

(será mesmo com 2 esses
que se escreve paçarinho?)

Cacaso.  Lero-lero (1967-1985). 7Letras/Cosac & Naify, 2002.

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