terça-feira, 24 de julho de 2012

AH, UM SONETO... DE NAURO MACHADO


Que planeta gerou meu nascimento?
que paraplégico planeta?  Acesas
estrelas frias, meu estrumado alento,
teus róseos dentes, Pai, de eternas presas,
mastigam o osso do apodrecimento
e esmagam a alma das minhas tristezas!
Que planeta fez-me em carne, e não em vento?
Noturna dor de mortais represas,
já estou morrendo como um rio em mim,
no leito seco desta terra: assim...
(Meus órgãos sonham flores malogradas.)
É meia-noite.  Hora eternamente
a bater em minha alma, um passo à frente,
como uma besta andando.  A chibatadas!

In: Nauro Machado.  Antologia poética, 1980.

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