MEDUSA
“Caia
comigo
Nas
estrelas frígidas
Caia comigo
Na luz do
delírio
Mergulhe
Onde não há
canção
Salvo as
cãs dos ventos velhos.
Siga-me
Até o fim,
Até o caos
estonteante
O eterno
caos fervente
Dos meus
cabelos!
Contemple a
sua amante, −
Pedra!”
Tradução de Augusto de Campos
Ilustração de Talarico |
MEDUSA
“Fall with me
Through the frigid stars:
Faal with me
Through the raving light: −
Sink
Where is no song
But only the white hair of aged winds.
Follow
Into utterness,
Into dizzying chaos, −
The eternal boiling chaos
Of my locks!
Behold thy lover, −
Stone!”
Augusto de Campos. Poesia da recusa. Perspectiva, 2006.
Hart Crane nasceu em 1899 em Ohio. Em 1932 atira-se de um navio
na costa americana, quando voltava de uma viagem ao México, dando fim a uma
vida marcada por conflitos com a sua homossexualidade e pelo alcoolismo. Em 1953, Vinícius de Moraes dedica-lhe o belo
poema a seguir:
O POETA HART CRANE SUICIDA-SE NO MAR
Quando mergulhaste
na água
Não sentiste
como é fria
Como é fria
assim na noite
Como é
fria, como é fria?
E ao teu
medo que por certo
Te acordou
da nostalgia
(Essa incrível
nostalgia
Dos que
vivem no deserto...)
Que te
disse a Poesia?
Que te
disse a Poesia
Quando Vênus que luzia
No céu tão perto (tão longe
Da tua melancolia...)
Brilhou na tua agonia
De moribundo desperto?
Que te disse a Poesia
Sobre o líquido deserto
Ante o mar boquiaberto
Incerto se te engolia
Ou ao navio a rumo certo
Que na noite se escondia?
Temeste a morte, poeta?
Temeste a escarpa sombria
Que sob a tua agonia
Descia sem rumo certo?
Como sentiste o deserto
O deserto absoluto
O oceano absoluto
Imenso, sozinho, aberto?
Que te falou o Universo
O infinito a descoberto?
Que te disse o amor incerto
Das ondas na ventania?
Que frouxos de zombaria
Não ouviste, ainda desperto
Às estrelas que por certo
Cochichavam luz macia?
Sentiste angústia, poeta
Ou um espasmo de alegria
Ao sentires que bulia
Um peixe nadando perto?
A tua carne não fremia
À idéia da dança inerte
Que teu corpo dançaria
No pélago submerso?
Dançaste muito, poeta
Entre os véus da água sombria
Coberto pela redoma
Da grande noite vazia?
Que coisas viste, poeta?
De que segredos soubeste
Suspenso na crista agreste
Do imenso abismo sem meta?
Dançaste muito, poeta?
Que te disse a Poesia?
Quando Vênus que luzia
No céu tão perto (tão longe
Da tua melancolia...)
Brilhou na tua agonia
De moribundo desperto?
Que te disse a Poesia
Sobre o líquido deserto
Ante o mar boquiaberto
Incerto se te engolia
Ou ao navio a rumo certo
Que na noite se escondia?
Temeste a morte, poeta?
Temeste a escarpa sombria
Que sob a tua agonia
Descia sem rumo certo?
Como sentiste o deserto
O deserto absoluto
O oceano absoluto
Imenso, sozinho, aberto?
Que te falou o Universo
O infinito a descoberto?
Que te disse o amor incerto
Das ondas na ventania?
Que frouxos de zombaria
Não ouviste, ainda desperto
Às estrelas que por certo
Cochichavam luz macia?
Sentiste angústia, poeta
Ou um espasmo de alegria
Ao sentires que bulia
Um peixe nadando perto?
A tua carne não fremia
À idéia da dança inerte
Que teu corpo dançaria
No pélago submerso?
Dançaste muito, poeta
Entre os véus da água sombria
Coberto pela redoma
Da grande noite vazia?
Que coisas viste, poeta?
De que segredos soubeste
Suspenso na crista agreste
Do imenso abismo sem meta?
Dançaste muito, poeta?
Que te disse a Poesia?
Vinícius de Moraes. Poesia completa e prosa. 1987.
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