segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

AH, UM SONETO... DE CESÁRIO VERDE


HEROÍSMOS

 

Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o largo mar rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos de um túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e n’água quase assente,

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidado, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!





 
In: Cinco séculos de sonetos portugueses de Camões a Fernando Pessoa.  Organização, apresentação e ensaios de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.



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