HEROÍSMOS
Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.
Eu temo o largo mar rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos de um túmulo disforme.
Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,Tufada a vela e n’água quase assente,
E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidado, simplesmente,Escarro, com desdém, no grande mar!
In: Cinco séculos de sonetos portugueses de
Camões a Fernando Pessoa.
Organização, apresentação e ensaios de Cleonice Berardinelli. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário