DIAMBA
Negro velho
fuma diamba
para amassar
a memória
O que é bom
fica lá longe...
Os olhos vão-se
embora pra longe
O ouvido de
repente parouCom mais uma pitada
o chão perdeu o fundo
Negro escorregou
Caiu no meio da África
Então
apareceu do fundo da floresta
uma tropa
de elefantes enormestrotando
Cinqüenta elefantes
puxando uma lagoa
– Para onde
vão levar esta lagoa?
Está
derramando água no caminho
A água no
caminho juntou
correu correufez o rio Congo
Águas
tristes gemeram
e as
estrelas choraram
– Aquele
navio veio buscar o rio Congo!
Então as
florestas se reunirame emprestaram um pouco de sombras pro rio Congo dormir
Os
coqueiros debruçaram-se na praia
para dizer
adeus
DONA CHICA
A negra
serviu o café
– A sua
escrava tem uns dentes bonitos dona Chica
– Ah o
senhor acha?
Ao sair
a negra
demorou-se com um sorriso na porta da varanda
Foi
entoando uma cantiga casa-a-dentro:
Ai
do céu caiu um galho
Bateu
no chão Desfolhou
Dona Chica
não disse nada
Acendeu ódios
no olhar
Foi lá
dentro Pegou a negra
Mandou metê-la
no tronco– Iaiá Chica não me mate!
– Ah! Desta vez tu me pagas
Meteu um
trapo na boca
Depoisquebrou os dentes dela com um martelo
– Agora
junte esses
cacos numa salva de pratae leve assim mesmo
babando sangue
pr’aquele
moço que está na sala, peste!
Raul Bopp. Cobra Norato e outros poemas. 10ª. ed. Civilização Brasileira/MEC, 1975.
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