A garupa da vaca era palustre e bela,
uma penugem havia em seu queixo formoso;
e na fronte lunada onde ardia uma estrela
pairava um pensamento em constante repouso.
Esta a imagem da vaca, a mais pura e singela
que do fundo do sonho eu às vezes esposo
e confunde-se à noite à outra imagem daquela
que ama me amamentou e jaz no último pouso.
Escuto-lhe o mugido – era o meu acalanto,
e seu olhar tão doce inda sinto no meuo seio e o ubre natais irrigam-me em seus veios.
Confundo-os nessa ganga informe que é meu canto:
semblante e leite, a vaca e a mulher que me deuo leite e a suavidade a manar de dois seios.
(Poema XV do Canto I de “Invenção de Orfeu”. In: Jorge de Lima. Poesia
completa, v. 2. RJ: Nova Fronteira,
1980.)
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