quinta-feira, 10 de abril de 2014

AH, UM SONETO... MAIS UM DE GLAUCO MATTOSO


 

SONETO CACOÉPICO

 
É má cacofonia heróico brado,
que faz o nosso hino ser por cada
macaco no seu galho de piada
motivo, mito presto profanado.

Galhofo quando grafo “deputado”,
um réu por cuja mãe a pátria brada
e cuja nota tem que amar melada
a puta que a recebe de ordenado.

Por ti gela meu pinto, e por ti são
meus bagos esmagados qual sardinha,
ó língua de tão baixo palavrão!

Dos cacos que cuspi, calou Caminha.
A mim toca, contudo, uma questão:
Se já Camões fez caca em “Alma minha”...

 

In: Glauco Mattoso.  Tratado de versificação. SP: Annablume, 2010.

 

 


 

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