CARVALHO JUNIOR
Um
instante, coveiro! o morto é meu amigo,
E como vês cheguei para dizer-lhe adeus;
Depois podes levá-Io, a Satanás, contigo,
Que sei que não pretende a salvação de Deus.
Eu descuidei-me, sim; nós dávamo-nos muito
Há meses abracei-o e nunca mais o vi...
Alguém, quem quer que seja! aproveitou o intuito,
Matou-o em minha ausência e trouxe-o para aqui.
Vim despedir-me dele... (Escuta-me, primeiro.
Tu deves conhecer os mortos que aqui somes;
Muitas vêzes Hamleto - a dúvida, coveiro,
Visita este lugar interrogando nomes.
Estuda esta cabeça, o príncipe há de vê-Ia;
Repara bem, é loura, esplêndida, à Van-Dick!
Pois bem, gasta a mortalha, então roída a tela,
Não tomes Baudelaire por um jogral - Yorick!)
Vim despedir-me, pois! A morte já começa
A martelar caixões na porta dos ateus!...
Sentido, batalhões! caiu uma cabeça...
Que importa uma vitória às legiões de Deus?...
E como vês cheguei para dizer-lhe adeus;
Depois podes levá-Io, a Satanás, contigo,
Que sei que não pretende a salvação de Deus.
Eu descuidei-me, sim; nós dávamo-nos muito
Há meses abracei-o e nunca mais o vi...
Alguém, quem quer que seja! aproveitou o intuito,
Matou-o em minha ausência e trouxe-o para aqui.
Vim despedir-me dele... (Escuta-me, primeiro.
Tu deves conhecer os mortos que aqui somes;
Muitas vêzes Hamleto - a dúvida, coveiro,
Visita este lugar interrogando nomes.
Estuda esta cabeça, o príncipe há de vê-Ia;
Repara bem, é loura, esplêndida, à Van-Dick!
Pois bem, gasta a mortalha, então roída a tela,
Não tomes Baudelaire por um jogral - Yorick!)
Vim despedir-me, pois! A morte já começa
A martelar caixões na porta dos ateus!...
Sentido, batalhões! caiu uma cabeça...
Que importa uma vitória às legiões de Deus?...
Fontoura Xavier.
Opalas (edição
definitiva,muito aumentada). Lisboa: Livraria Editora Viúva Tavares Cardoso, 1905.
(baixado de http://www.brasiliana.usp.br
A respeito desse poema, Antonio Candido em seu ensaio “Os
primeiros baudelairianos” observa que Fontoura Xavier “em 1879 recitou no
enterro de Carvalho Júnior um poema
cheio de audácia satanista e ateísmo (admirado e traduzido por Rubén Darío),
(...) cujo efeito se pode imaginar, naquela circunstância e naquele meio
provinciano.” (in: A educação pela noite.
Ática, 1987)
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