ARTE
POÉTICA
Entre tantos ofícios exerço este que não é meu,
como um amo implacável
obriga-me a trabalhar de dia, de noite,
com dor, com amor,
sob a chuva, na catástrofe,
quando se abrem os braços da ternura ou da alma,
quando a enfermidade afunda as mãos.
A este ofício obrigam-me as dores alheias,
as lágrimas, os lenços saudadores,
as promessas em meio ao outono ou ao fogo,
os beijos de encontro, os beijos de adeus,
tudo me obriga a trabalhar com as palavras, com o sangue.
Nunca fui o dono de minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros escrevem-nos como atirar contra a morte.
Tradução de Adriano Nunes
Entre tantos ofícios exerço este que não é meu,
como um amo implacável
obriga-me a trabalhar de dia, de noite,
com dor, com amor,
sob a chuva, na catástrofe,
quando se abrem os braços da ternura ou da alma,
quando a enfermidade afunda as mãos.
A este ofício obrigam-me as dores alheias,
as lágrimas, os lenços saudadores,
as promessas em meio ao outono ou ao fogo,
os beijos de encontro, os beijos de adeus,
tudo me obriga a trabalhar com as palavras, com o sangue.
Nunca fui o dono de minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros escrevem-nos como atirar contra a morte.
Tradução de Adriano Nunes
ARTE
POÉTICA
Entre tantos oficios ejerzo éste que no es mío,
como un amo implacable
me obliga a trabajar de día, de noche,
con dolor, con amor,
bajo la lluvia, en la catástrofe,
cuando se abren los brazos de la ternura o del alma,
cuando la enfermedad hunde las manos.
A este oficio me obligan los dolores ajenos,
las lágrimas, los pañuelos saludadores,
las promesas en medio del otoño o del fuego,
los besos del encuentro, los besos del adiós,
todo me obliga a trabajar con las palabras, con la sangre.
Nunca fui el dueño de mis cenizas, mis versos,
rostros oscuros los escriben como tirar contra la muerte.
In: GELMAN, Juan. Poesía Reunida. Barcelona: Seix Barral, 2012.
Entre tantos oficios ejerzo éste que no es mío,
como un amo implacable
me obliga a trabajar de día, de noche,
con dolor, con amor,
bajo la lluvia, en la catástrofe,
cuando se abren los brazos de la ternura o del alma,
cuando la enfermedad hunde las manos.
A este oficio me obligan los dolores ajenos,
las lágrimas, los pañuelos saludadores,
las promesas en medio del otoño o del fuego,
los besos del encuentro, los besos del adiós,
todo me obliga a trabajar con las palabras, con la sangre.
Nunca fui el dueño de mis cenizas, mis versos,
rostros oscuros los escriben como tirar contra la muerte.
In: GELMAN, Juan. Poesía Reunida. Barcelona: Seix Barral, 2012.
Em janeiro deste ano morreu na cidade do México Juan
Gelman, poeta, tradutor e jornalista argentino, que completaria 84 anos neste 3
de maio. Desde 1976,
quando deixou seu país natal para
nunca mais voltar, Gelman vivia
no México. A ditadura argentina (1976-1983)
sequestrou seu filho e sua nora, então
grávida. Diz-se que Gelman sempre
manteve a esperança de conhecer a neta –
que, ao contrário dos pais, encontrava-se viva –, e empreendeu inúmeros esforços para
encontrá-la, esforços estes que mobilizaram intelectuais pelo mundo, a
exemplo de Eduardo Galeano e José Saramago. Em 2000 finalmente Gelman a encontrou e a contactou; ao nascer, ela havia sido entregue – num procedimento
monstruosamente comum no contexto daquela ditadura – pelos militares argentinos
a um casal uruguaio, que a criara.
Em “El País”, Juan Cruz escreveu quando de sua morte:
“Em abril do ano passado, quando publicou o seu livro Hoy, de prosa poética, explicou como se
sentiu quando um dos assassinos de seu filho foi condenado. “Entre os culpados pelo assassinato do meu
filho havia um general que foi condenado à prisão perpétua. Mas quando
proferiram a sentença eu não senti nada. Nem ódio, nem alegria. E eu me
perguntava o porquê, e isso me levou a escrever, para me perguntar o que tinha
acontecido”. Nessa conversa, Gelman resumiu o seu descontentamento com o
papa Francisco, a quem tinha apelado, quando o atual pontífice ainda era o
bispo Bergoglio, para ajudar a encontrar seu filho. O bispo lhe disse que não
podia fazer nada, “mas contou outra coisa
à Justiça, contou que tinha feito esforços sem sucesso”.”
Na mesma matéria: “Gelman ganhou os principais prêmios da literatura em língua espanhola: O Rulfo, o Reina Sofia de poesia, o Cervantes (2007). Para ele, a poesia era “uma forma de resistência”, mas esse compromisso civil não mudou sua maneira de ser um poeta. Hermético?, se perguntava. “Não, o que eu faço é respeitar o leitor, obrigá-lo a ler por dentro”. No Ateneu de Madri, em um de seus recitais tumultuados, sete anos após a descoberta de sua neta, ele leu seu poema Pai de então (cf. original abaixo)como se suas mãos, seus olhos e ele todo fossem tremer. “Assim que voltaste / como se não tivesse acontecido nada / como se o campo de concentração não / como se há vinte e três anos / que não escuto tua voz nem te vejo / devolveram o urso verde tu / sobretudo longuíssimo e eu / pai de então / voltamos à tua presença incessante / nestes ferros que nunca terminam / nunca acabarão? Já nunca acabarás de cessar / voltas e voltas / e tenho que te explicar que estás morto”. A ovação dolorida das pessoas foi a confirmação de que o público e o poeta se leram por dentro.
Essa
foi a história de sua vida: o filho morto, a nora morta, o desaparecimento da
neta que deixou feridas. Tudo isso continuava vivo em seu olhar, como nesses
versos pai de então. Foi comunista, jornalista e resistente, e a sombra
desta história não lhe permitiu esquecer jamais essa militância contra o
esquecimento.
PADRE
DE ENTONCES
“Así
que has vuelto
como
si hubiera pasado nada
como
si el campo de concentración no
como
si hace veintitrés años
que
no escucho tu voz ni te veo
han
vuelto el oso verde tú
sobre
todo larguísimo y yo
padre
de entonces
hemos
vuelto a tu hijar incesante
en
estos hierros que nunca terminan
¿Ya
nunca cesarán?
ya
nunca cesarás de cesar
vuelves
y vuelves
y
te tengo que explicar que estás muerto”.
Links desta postagem:
http://totodenadie.blogspot.com.br/search/label/Juan%20Gelman (Blog de Triunfo Arciniegas)
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