quinta-feira, 25 de setembro de 2014

AH, UM SONETO... DE AUGUSTO DOS ANJOS


ASA DE CORVO

 

Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro, que nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

É com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

É ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte – a costureira funerária –
Cose para o homem a última camisa!

 

In:  Augusto dos Anjos. Toda a poesia.  RJ: Paz e Terra, 1978.

 
 
 

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