OSSOS
O
único que nos resta
é
o vento
o
único que deixamos
é
o ventoo vento passa pelo osso oco
- schhhh
é isso que passa
silêncio / de terra
silêncios do Chê desenterrado
A notícia relâmpago se grava no vento
os caçadores / injetam formol em seu cadáver / exibem a presa para a imprensa
executam outra vez em chamas
ssem botas / sem meias / sem caminho
um troféu descalço para a lembrança
Os últimos flashes retumbam em sua pálida couraça
Em
resumo / escarnecido
retratode um cristo qualquer
sem sombras / à sombra / do relâmpago
a cena mortal se imortaliza
(...)
Luminoso
no pôster da adolescente / que segue sonhando contigo e com teus
sonhose sonha
com voltar a ter quinze anos
entre seus badulaques o guarda veterano / como osso santo / um fiapo
verde-oliva
o girão / de uma bandeira
com suas cores / de beijos
e de luto
nem quem
os vendesse no mercado das pulgas
o homem novo é um osso enterrado
sobrevive
o osso
não
há lealdade maior nem tão calada.
A
sombra
fica
com seu ossoque esteve em nosso mesmo sendeiro
apaixonado / com dores nos ossos
cantam/ e quando cantam parece que estão sós
convencidos / vencidos / convertidos
em abono / da terra
o famoso
paraíso
do hino / que cantaram / de pé / os escravos sem pão
um
vento velho despenteia tua cabeleira
é
uma lembrançacaveira calva cavilando
ria
mostra
esses dentes que distinguem tua história na ossaturaamplo é o riso do aparecido
gargalhada eterna
muda morte sem hálito
e
segue sendo doce tua mirada de osso
(...)
pôster
/ póstero
portada
/ ícone pop / bugigangafilme / souvenir de gauche / mercadoria
pôster / póstero
livro de poesia
todos ao ar com teus ossos exumados
pela noite
repetida no verso / da fossa infinita
uma fossa comum cheia de enes:
Ninguém
Ninguém
Noite NoiteNunca Nunca
a dupla negação te ressuscita.
Tradução de Antonio Miranda
Tradução de Antonio Miranda
Foto de Marc Hutten, reencontrada em 2014 |
HUESOS
Lo único que nos queda
es el viento
lo único que dejamos
es el viento
el viento pasa por el hueso hueco
-schhhhh
eso es lo que pasa
silencio / de tierra
silencios del Che desenterrado
La noticia relámpago se graba en el viento
los cazadores / inyectan formol a su cadáver / exhiben la
presa ante la prensa
lo ejecutan de nuevo a fogonazos
ssin botas / sin calcetines / sin camino
un trofeo descalzo para el recuerdo
Los últimos flashes retumban en su pálido pellejo
En escorzo / escarnecido
retrato
de un cristo cualquiera
no hay sombras / a la sombra / del relámpago
la escena mortal se inmortaliza
(...)
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Luminoso en el poster de la quinceañera / que sigue soñando contigo y con tus sueños
y sueña
con volver a tener quince años
entre sus cachivaches el veterano guarda /como hueso
santo / una hilacha verdeoliva
el jirón / de una bandera
el recuerdo / de
una playa
con sus colores /
de besos
y de luto
no faltó quien tomara los viejos fusiles
ni quien
los vendiera en el mercado de las pulgas
todo se corrompe en el camino del caracol que cruza este
poema
el hombre nuevo es un hueso enterrado
sobrevive el hueso
no hay lealtad más grande ni tan callada.
La sombra
se queda con su hueso
un hueso deja de ser / sólo un hueso
cuando sabemos / que lo bautizaron
que estuvo en nuestra misma vereda
enamorado / con dolores de huesos
¿dónde están los
camaradas?
cantan / y cuando cantan parece que están solos
sonámbulos y lúcidos te siguieron en el sueño
convencidos /
vencidos / convertidos
en abono / de la
tierra
el famoso
paraíso
del himno / que cantaron
/ de pié / los esclavos sin pan
(...)
un viento viejo despeina tu melena
es el recuerdo
calavera calva cavilando
riete
muestra esos dientes que distinguen tu historia en la
huesera
amplia es la risa del aparecido
carcajada eterna
muda calaca sin respiro
y sigue siendo dulce tu mirada de hueso
(...)
afiche / fetiche
carátula / ícono
pop /
chuchería
película /
souvenir de la gauche / mercadería
fetiche / afiche
libro de poesia
(...)
todos al aire con tus huesos exhumados
bajo la noche
repetida en el verso
/ de la fosa infinita
una fosa
común llena de NN:
Nadie
Nadie
Noche Noche
Nunca
Nunca
la doble
negación te resucita.
O
poema de Montealegre bem como sua tradução foram colhidos no excelente blog de
Antonio Miranda, que recomendo, acessado em 04/04/2015.
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