Dois
poemas de Longa vida (1982)
No
pau-de-arara
é proibido gozarmesmo quando enrabado
sacuda o curto-circuito
do corpo
fudido em verde-amarelo
sob o som
das botas, das patas
dos saltos altos
da Pátria em marcha
das famílias caindo de quatro
ao som
de Dom e Ravel
de Deus
salve a América!
Eu te amo meu Brasil
eu
só ouço o vômito
e as aves
que aqui gorjeiam
etc.
Amor
com amor se paga
nas
ruas, no Rio
de
noite
e se encosta
nos
muros, por debaixo
das
marquises
das árvores
dos
postes do Aterro
com
seu luar pontual
em
suspenso
como uma nave de jardim
e
o asfalto
pousando
à beira-mar.
Amor
com amor se pega
se
enrosca
e cresce:
filodendros,
trepadeiras
jibóias,
abraços vegetais
e
beijos
pelos bancos da paisagem
dos
carros
na
véspera do verão
o
amor desata os cabelos
levanta
as saias e dança
de
patins e passa de bicicleta
sobre
os bueiros da Força e Luz.
Amor
com amor se pica
foge
de casa
morre
entre os morros e o mar
se
mata
nas
primeiras páginas
faz
manchetes
−
balas, sangue, punhalada
estricnina
− e se incendeia
em
camas transitórias
ateia
o fogo da paixão às vestes
para
melhor despir os nus
de
todos nós.
(Armando Freitas Filho. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. RJ: Nova Fronteira,
2003.)
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