THEREZA
Visito
minha mãe no Jardim Botânico
Faz
dois anos que ela morreuParece que faz uma vida
Tenho tanta saudade
Das conversas
Do uisquinho, até do barulho nervoso do gelo
O excesso de uísque ajudou a matá-la
Pena que os excessos matem
Já conheci quem morreu de amor
De excesso e de falta
A
árvore que eu e minha irmã escolhemos para depositar suas
Cinzas
não tem nada de excepcionalÉ uma Tiliaceae da Malásia
Ela me parece velha
Foi um descuido espalhar as cinzas numa
Árvore que pode tombar logo
Mesmo antes da minha morte
Me parece um canto agradável
Ela deve estar contente no céu
Estou aqui na terra
Depositar cinzas de cremação no Jardim Botânico
É proibido. Tirar fotos de casamento pode
Imagino se todos depositassem seus mortos no
Jardim Botânico assemelharia-se ao Ganges
Todo humano deveria passar uma tarde
Olhando uma cremação no Rio Ganges, na Índia
Depois de pôr fogo no morto, com a presença da
Família, com um pedaço de pau dilacera-se os
Ossos e o crânio que são muito resistentes ao
Fogo. Tudo é calmo e sagrado. As cinzas vão para o rio
Minha mãe não sofreu muito ao morrer
Eu e minha irmã ficamos contidos. Nossa família é
Assim. Fatalista. Já me falaram que é um resquício
Aristocrático. Sempre nos orgulhamos da
República. Em volta da Tiliaceae nasceram cogumelos
Cada vez que visito minha mãe tem novidade
Em volta da árvore. Minha mãe está sempre
Presente e o chão sempre apresenta surpresas
Os cogumelos formam um ajuntamento como uma ninhada
Do meio salta uma flor! É da raça das Therezas.
In:
Guilherme Zarvos por Renato Rezende. Coleção Ciranda da Poesia. RJ: EdUERJ, 2010.
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