Cidadãos franceses assistem à entrada de Hitler na Marcha sobre Paris, 1940 (autor desconhecido) |
Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987)
Abre
em nome da lei.
Em
nome de que lei?Acaso lei tem nome?
Em nome de que nome
cujo agora me some
se em sonho o soletrei?
Abre em nome do rei.
Em
nome de que rei
é a
porta arrombadapara entrar o aguazil
que na destra um papel
sinistramente branco
traz, e ao ombro o fuzil?
Abre em nome de til.
Abre em nome de abrir,
em nome de poderes
cujo vago pseudônimo
não é de conferir:
cifra oblíqua na bula
ou dobra na cogula
de inexistente frei.
Abre em nome da lei.
Abre sem nome e lei.Abre mesmo sem rei.
Abre, sozinho ou grei.
Não, não abras: à força
de intimar-te, repara:
eu já te desventrei.
Carlos Drummond de Andrade.
Poesia e prosa. RJ: Nova Aguilar,
1983.
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