domingo, 18 de março de 2012

AH, UM SONETO... DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

DESTRUIÇÃO

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam ao enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém.  Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.

In: Poesia e prosa. 1981.


Um comentário:

  1. Drummond...ele sabe bem o que escreve.

    Esse sentimento que surge sem cuidados deve doer despercebidamente mesmo. As pessoas se iludem pela impressão de amor q têm nesses momentos de prazer, principalmente quando a ocasião não favorece...Fazer o quê, é viver "em pé de guerra".

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