PEQUENOS DIZERES SOBRE A MULHER
I
Não come da
fome
nem come do medo
nem guarda na
arca
com a roupa o segredo
II
No armário
não tem vestido
mas também não tem o medo
na fome
os dentes vão lendo
no corpo
o frio vai cedendo
III
Há quem diga da mulher
e há quem conte a sua vida
Conforme o pão
a mulher
conforme a luta
é nascida
Há quem diga dos seus
olhos
e há quem conte do seu ventre
conforme o peso
que arrasta
conforme o país
que sente
IV
Acolhe a mulher
o cântaro
na água acolhe
os joelhos
debruçada sobre
o balde
os anos acolhe inteiros
Acolhe a água
no cântaro
nos joelhos
a camisa
debruçada sobre
o tempo
acolhe a mulher a vida
V
Não há pranto que se ajuste
à fome de uma espingarda
nem porcelana que parta
os olhos da sua água
A mulher na sua casa
põe a frescura no cântaro
e o poente dobrado
depõe-no ela a um canto
in: Cem poemas [Antologia pessoal] + 22 inéditos. 7Letras, 2006.
Muito bom!
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