domingo, 20 de maio de 2012

AH, UM SONETO... DE RILKE


MORGUE

Ali jazem em ordem como se
à espera de algum ato tardio
que os pudesse ligar entre si e
reconciliá-los com aquele frio;

tudo está por enquanto inacabado.
Por que, dentro dos bolso, um cartão
Com o nome de cada?  O ar de enfado
nas suas bocas, foi esforço vão

tentar lavá-lo: só ficou patente.
Mais áspera, a barba ainda nos rostos:
o zelador da morgue tem seus gostos;

nem os de boca aberta lhe dão náuseas.
Com olhos revirados sob as pálpebras,
os mortos veem-se agora interiormente.
                                                                                                                               
                        tradução de José Paulo Paes

in: Rainer Maria Rilke: poemas.  Tradução e introdução José Paulo Paes. Companhia das Letras, 2012.           
         


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