quarta-feira, 6 de junho de 2012

CECÍLIA MEIRELES







ECO

Alta noite, o pobre animal aparece no morro, em silêncio.
O capim se inclina entre os errantes vaga-lumes;
pequenas asas de perfume saem de coisas invisíveis:
no chão, branco de lua, ele prega e desprega as patas, com sombra.

Prega, desprega e pára.
Deve ser água, o que brilha como estrela, na terra plácida.
Serão jóias perdidas, que a lua apanha em sua mão?
Ah! ... não é isso …

E alta noite, pelo morro em silêncio, desce o pobre animal sozinho.

Em cima, vai ficando o céu. Tão grande! Claro. Liso.
Ao longe, desponta o mar, depois das areias espessas.
As casas fechadas esfriam, esfriam as folhas das árvores.
As pedras estão como muitos mortos: ao lado um do outro, mas estranhos.
E ele pára, e vira a cabeça. E mira com seus olhos de homem.
Não é nada disso, porém …

Alta noite, diante do oceano, sente-se o animal, em silêncio.
Balançam-se as ondas negras. As cores do farol se alternam.
Não existe horizonte. A água se acaba em tênue espuma.

Não é isso! Não é isso!
Não é a água perdida, a lua andante, a areia exposta …
E o animal se levanta e ergue a cabeça, e late … late …

E o eco responde.

Sua orelha estremece. Seu coração se derrama na noite.
Ah! para aquele lado apressa o passo, em busca do eco.

In: Viagem/Vaga música. 1939.

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