domingo, 10 de junho de 2012

FICÇÃO NOTURNA


O estranho quadrúpede que percorreu agora à noite todos os quatro cantos aqui do meu pátio tinha a compleição de um homem adulto ao qual estranhamente alguém – ou alguma coisa – tivesse encaixado um cubo maciço na região torácica e, por conta disso, as duas patas originais se houvessem transformado em quatro.  O fato de ser inamistoso e barulhento em seu mover-se pesado não me impediu de aguardar que surgisse da zona  escura do fundo do quintal, de entre as bananeiras e, mostrando-se à luz,  não fugisse à minha aproximação nem parecesse importar-se com ela.  Lanterna em punho, fui em sua direção,  como se este ato firmasse  resolutamente minha descrença em entes sobrenaturais: o único olhar que me lançou era de quem me compreendia;  era de quem não se acreditasse. 

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