O TURBANTE
(Um objeto
cripto-Kitsch, como Édipo)
Magna e morna minha mãe
sai dos mistérios do banho.
Outra, não minha, regressa
mescla de iara e cigana.
No rosto traz rosa e pinho
no rebanho dos cabelos.
A pele não pulsa, prisma
no livre e lívido joelho.
A tarde aninha-se nela
vaga e verde na íris.
Da pelve nascem anéis
clãs de cellos clandestinos.
Em seu quebranto lacrados
meus olhos não são meu olhar
de salteador de toalhas
e cúmplice de peignoir.
Entre figos, seixos, pólen
e dois galos celebrando
ela se senta enredada
em recitais de turbante.
Jalouisie toca no rádio.
Sobre a cabeça ela lança
retiária de sua áurea
em rito a rede que dança
até que seus dedos tramem
com laços de secreta teia
três elipses de serpente
na sua fronte de ovelha.
E rubra ela para. Rente
à bissetriz do seu peito
move-se um lobo jovem
que não avança, enleia-se.
Leis no meu corpo volteiam.
Um beijo em mim se alastra
enquanto vigio cativo
da sua nuca encarnada.
Mas a sombra dos emissários
com faca, acha e esgares
se ergue, quando um já me fere
e outro me faz: vai trai.
Quem? Eu, só pagem apenas
ao Rei? Tais todos estetas,
corsário, no olhar condeno-me
a imolar os dons da pele.
Sim,
I am not prince Hamlet.
Sou
sua lança impassível
indo
a futuros turbantes
tomar
tributos antigos.
Que este turbante em duas pontas
no pomo dos ombros se abre
em cem moedas ardentes
no branco sol da sua carne.
In: A faca serena, 1983.
Nenhum comentário:
Postar um comentário