O DELFIM
Para Greg Gatenby
Por onde salte o delfim
(o mar lhe pertence todo,
dizem, do Oceano até
o Mediterrâneo), vivo
vês lá o vislumbre de Deus
que surge e some, nele hílare
acrobata de arguto rostro.
É o malabarista de nosso
inquieto destino – o emblema
do Outro que com afano
buscamos, e que
(o delfim é alegre – é o álacre
companheiro da navegação)
diverte-se (nos exorta)
a fundir a negação
(um mergulho subáqueo – um vôo
elegante e improviso
num brancor de espumas)
com o grito da afirmação.
Tradução de Aurora Fornoni Bernardini
IL DELFINO
Dovunque balza il delfino
(il maré gli appartiene tutto,
dicono, dall’Oceano fino
al Mediterrâneo), vivo
là vedi il guizzo di Dio
che appare e scompae, in lui ilare
acrobata dall’arguto rostro.
È il giocoliere del nostro
inquieto destino – l’emblema
dell’Altro
che cerchiamo
com affanno,
e che
(il delfino è
allegro – è il gaio
compagno
d’ogni navigazione)
si diverte
(ci esorta)
a fondere la
negazione
(um tuffo subacqueo
– um volo
elegante e
improvviso
in um
biancore di spume)
col grido dell’affermazione.
In: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni. Organização e tradução de Aurora Fornoni
Bernardini. Florianópolis: Editora da
UFSC, 2011
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