sábado, 22 de março de 2014

EDUARDO STERZI



 

RETRATOS

                        [Com o Tarso, antes; e, agora, para o Tarso]

 

1

mundo mundo
ou país
            bloqueado
de onde a poesia,
drástico estrume,
escapa –
recolhe o
             tentáculo:
o tempo é
             de fezes
 
 
2

uma flor desponta
em subsolo (humana,
medrosa): pétala, refém
de sapatos,
            afronta
o sol – o asfalto
me veste, estrito
paletó: a argila
o sigilo, o selo
do só

 
3

sigo,
             pressinto
a noite
                  – corrosiva –
                                          em mim:
tempestade
               anulando a
paisagem,
              estado
de emergência,
                        enxurrada
(que não
               me leva,
que não
               me lava)
 
 
4

mãos imundas,
melhor devastá-las:
que o papel receba,
tímida chuva,
partículas suspensas
(mãos
              pensas),
o chumbo
               dos ares
inspirados
                (à sombra esguia
                 de uma
                 girafa intolerável)
 
 
5

no quarto
de nus, ferido
e calvo, depois
do assalto –
vigília ou
velório, cabis-
baixo, noite
em falso
 
 
6
 
nas entranhas
desata
              o cadarço,
aos pés –
de onde
              país
bloqueado,
valsa de mortos,
em curto-
circuito,
vai (não
vai)
 
 
7
 
trouxeste o mapa?  por
quais estradas
fugir ao
vasto (devastado)
coração?  toda
estrada é
pedra
            seqüestrada,
estrago
            de ossos,
rumor de
            máquina

 
Eduardo Sterzi.  Aleijão. RJ: 7 Letras, 2009.
 


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