sábado, 8 de março de 2014

JOHNNY VAI À GUERRA

Cena de Johnny vai à guerra, de Dalton Trumbo



JOHNNY VAI À GUERRA


 

Thanatos, o vencedor.
Cristo, o impotente.

Cristo, o que assevera:
Nada tenho com isto
nada posso, desisto, os atos
quaisquer que sejam não deterão
o trem dos mortos,
(um truque de cartas barato
o ar vertido em whisky
e é só isso)

 zang-tumb-tuuum
zang-tumb-tuuum
o trem dos mortos prossegue
e dentro
corpos de plena vida
aguardam a baldeação
para o trespasse,
jogando cartas, sonhando a tortura
e seu conforto
(apenas algumas horas
até o fim)

zang-tumb-tuuum
zang-tumb-tuuum 

cadáver de criança  espreita
entre pilares de De Chirico
e sonha
uma ordenação do mundo, um sonho
em que será esquecida.

 Em breve todos
- esqueletos desmembrados
na paz de lodo parecem sorrir
rumo ao fundo lodo
libertos das dores
de cinzas, cicatrizes
lodo onde não importa
a vara do pai perdida
o perdão do pai
o alistamento voluntário
o Merry Christmas
a morfina 

Não há retórica possível
não há estratagema, a não ser 

(usar a cabeça, usar a cabeça!) 

conformar-se em estar vivo
conceder perdão ao abismo.
 

Roberto Bozzetti. Firma irreconhecível.  RJ: Oficina Raquel, 2009.

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