segunda-feira, 17 de março de 2014

FABIANO CALIXTO



E-MAIL A MURILO MENDES

 

colibris, nos cílios do vento,
bebem de rios inventados

formigas vermelhas carregam lascas de pinho
sobre a pele glacial de um arlequim morto

poemas beijam a copa das árvores
e, estas, em êxtase, estendem os ruídos do outono

as três marias doam brancuras às horas azuis
a procissão está grávida de quantos milagres?

as frutas sobre a mesa, próximas à colher de prata,
supremas e humanas, em cor, água e gesto

a morte também nos leva as canções?
a morte nunca esquece?

a letra-harpa foi morar na fábula
dias frágeis abandonam insônia no piano

 

 

                                   Fabiano Calixto. Música possível. 7Letras/CosacNaify, 2006.

 

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