quarta-feira, 18 de março de 2015

ABEL SILVA


FILHO


Ponho meu filho pra dormir
numa posição confortável, coberto,
a cabeça no travesseiro, o corpo ao comprido no berço.
Está quase dormindo
mas logo esperneia e bate os bracinhos
entorta o corpo, chora,
descobre o colchão e, no meio do bolo,
adormece.
Fico olhando o corpinho retorcido,
metade no colchão, metade no lençol,
a cabeça junto da grade
e penso que será sempre assim,
sempre os pais aninharão seus filhos num espaço lógico
e eles embolarão tudo com os espasmos do crescimento
dormirão tortos
dispensarão agasalhos
e acordarão aos berros com as cabeças magoadas
contra os limites dos ninhos.




Abel Silva.  Asas – solos de lírica elétrica.  2 ed. Muro, 1981.


Talarico

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