quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

DRUMMOND: TORTURA




TORTURA

Carretel não entra
em rabo de gato?
Não importa: este
há de entrar, exato.

Que anel mais estranho,
ornato insensato,
se tinge de sangue
no rabo do gato.

Unha, presa, fúria,
felino aparato,
nada pode contra
a mão e seu ato.

Foge o bicho, tonto?
Carretel, no mato,
nunca mais que sai
de rabo de gato.

Não, não foge: esconde-se
na cova do rato.
Outra mão, piedosa,
cure, salve o gato,
que esta sabe apenas
torturar exato.

                        Carlos Drummond de Andrade.  Boitempo & A falta que ama.  RJ: Sabiá, 1968.










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