quinta-feira, 31 de outubro de 2013

AH, UM SONETO... MAIS UM DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


CONFRONTO

 

Bateu Amor à porta da Loucura.
“Deixa-me entrar – pediu – sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão.”

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: “Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu,

enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar.”

 

            A paixão medida. 3 ed. Rio: José Olympio, 1981.

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