quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SOBRE POESIA...

Antonio Cícero:  É para ser fiel à poesia em si que o verdadeiro poeta se insubordina não somente contra a poesia convencional, mas contra o olhar ou a apreensão convencional da poesia.  Esse olhar, que é o olhar do falso poeta e do filisteu, pretende ser natural e não convencional, assim como pretende serem naturais as formas convencionais da poesia e naturais  os lugares em que convencionalmente espera encontrá-la, entre as amenidades da vida.  Contra essa concepção domesticada da poesia, o verdadeiro poeta se impõe uma tarefa dupla: por um lado, revelar a poesia em estado essencial e selvagem e, por outro, desmantelar as convenções que a elidem ou domesticam.  Essa decisão se radicalizou em alguns poetas da virada do século XIX para o XX, quando surgiram as vanguardas.
                                                                                                                      (In: Finalidades sem fim)





José Miguel Wisnik: Não é o tema que faz a poesia, pois todo assunto pode resvalar para a bobagem, o sentimentalismo e o clichê. O que faz a poesia é antes o rigor interno que não admite concessões aos discursos prontos — prontos para se apropriar de tudo o que é dito. Um poeta pode ser reconhecido por um único verso, pois uma palavra fora, uma palavra em falso, uma palavra falsa, põem abaixo o edifício todo. O poeta, nesse sentido, opera com todo o espectro das menores refrações semânticas e sonoras das palavras, fazendo com elas cálculos mentais e emocionais de alta complexidade.  (“Szymborska” in O Globo, 11/02/2012)



 ...e sobre vida literária:

Mário Faustino: Vida literária, emulação, reuniões sérias, leitura da poesia inédita, troca de experiências, debates, nada disso temos.  Quando se conversa sobre um poema, o que mais sai, em geral, é o “tá bom”, o “muito ruim”, o “uma beleza”.  Em lugar disso tudo, há o fenômeno amizade, o mesmo que se verifica em nossa administração, em nossa política: meu amigo escreve bem, meu inimigo escreve mal.  Você é um bom rapaz, simpático, não irrita a gente?  Seu poema está ótimo.  É um sujeito pedante, perigoso, lê mesmo os livros, é franco, implicante? Seu poema é, quando muito, “erudito”, “bem escrito”, mas não é poesia.
Mas afinal, dirá o leitor honesto, de que precisa a poesia brasileira? precisa de dinheiro.  De uma estrutura econômica estável como alicerce.  Precisa que o Brasil seja rico e autoconfiante e independente em todos os sentidos.  Precisa de universidades, enciclopédias, dicionários, editoras, cultura humanística, museus, bibliotecas, público inteligente, críticos de verdade, agitação, coragem.
                                                                               (in: De Anchieta aos concretos)











 

Um comentário:

  1. Mas qual seria, afinal, o valor da poesia? Para que ela serve?
    "mostrar a perene novidade da vida e do mundo; atiçar o poder de imaginação das pessoas, libertando-as da mesmice da rotina; fazê-las sentir mais profundamente o significado dos seres e das coisas; estabelecer entre estas correspondências e parentescos inusitados que apontem para uma misteriosa unidade cósmica; ligar entre si o imaginado e o vivido, o sonho e a realidade como partes igualmente importantes da nossa experiência de vida."
    (PAES, José Paulo.Poesia para crianças. São Paulo: Giordano, 1996).

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