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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

FLORISVALDO MATTOS DUAS VEZES



            Já falei aqui da  minha alegria em ter sido convidado a publicar poemas na revista eletrônica Nerval, junto com mais 25 poetas destes nossos tempos,alguns cuja poesia já conhecia, outros que aos poucos estou ainda descobrindo.  Reitero o convite,  a quem ainda não foi lá, para que conheça a revista, que linko aqui:  http://issuu.com/revistaflaubert/docs/nerval004
            Uma presença que muito me honrou ao saber que compartilhávamos a mesma publicação  foi a do poeta baiano Florisvaldo Mattos.  Mattos é uma eminente figura da intelectualidade baiana, melhor dizendo, soteropolitana, que promoveu, a exemplo de João Carlos Teixeira Gomes e Glauber Rocha, entre outros, uma intensa agitação cultural na Salvador dos anos 60. Nascido em 1932 é professor aposentado da UFBA e jornalista. Por este link, chegamos a um belo perfil de sua atividade (que foi também onde colhi as fotos desta postagem): http://jeitobaiano.atarde.uol.com.br/?tag=florisvaldo-mattos

            A seguir  um dos poemas publicados em Nerval:



GALOPE AMARELO


Quando ele voltou
a moça do portão estava casada
o prefeito era uma cruz e uma placa
as aves mudaram de itinerário
como os ônibus
o irmão mais moço tomava ópio
para esquecer.
 
Quando ele voltou
o empregado da esquina respondera
a um processo
onde perdeu a esperança e os dedos
o pai fuzilara um estudante
a mãe fugira com um mascate.

Quando ele partiu
a primavera galopava nos rosais
os campos de begônia floresciam
o gado esturrava nos currais
a terra desafiada vicejava como
uma égua na véspera do galope.
 
Quando ele partiu
o alimento dos olhos era verdura
de paisagem além da cerca
as goiabas enchiam os cestos
as mulheres voltavam com os meninos
os velhos falavam de assombração
a lua espreitava o pátio e o quintal.
 
Quando ele voltou
o ministro citava o arquiteto
com a pretensão de restaurar
o tempo à revelia dos relógios
o muro substituía o horizonte
autoridades sonolentas distribuíam
o passaporte dos homens para o sanatório.
 
Quando ele voltou
as leis se haviam tornado ainda mais fósseis
as oligarquias muito mais poderosas
os poderosos mais astutos
o ministro lembrava “a pá sob os escombros”
o menino relia as manchetes da guerra
os preconceitos rimavam com a economia.

Quando ele voltou
havia uma encruzilhada e um alto-falante
a moça do portão estava casada
o irmão caçula era um soldado velho.


Quando ele partiu
a primavera galopava nos rosais.
Quando ele voltou
O céu era só um galope amarelo.


Florisvaldo Mattos em foto de 2011


            
             Mergulhando em direção à origem dos tempos, fui num esforço tentar me lembrar da primeira vez que o nome, de curiosas ressonâncias parnasianas, do poeta nada parnasiano, me apareceu.  E lembrei. E, para minha sorte, ainda tenho aqui a publicação.  Foi no número 2 da ANIMA, revista editada em 1976 por Abel Silva e Capinam, que durou justamente esses dois números, naquela barra pesada ainda dos anos de chumbo.  O poema era este aqui:

POEMA PREPOSICIONADO

                        a Glauber Rocha

Debaixo dessas pontes de limo
debaixo desses rios parados
por que nos quererão ativos
mas não honrados?

Por sobre esses verões poluídos
por sobre esses ventos domados,
por que nos quererão amigos,
mas não amados?

Diante desses mares vencidos,
diante desses muros inviolados,
por que nos quererão sorrindo,
no instante mais trágico?
 
Por entre roteiros proibidos,
por entre símbolos reinventados,
por que nos quererão perdidos
viajantes sem mapa?

Atrás dessas botas de verniz,
atrás dessas máscaras de aço,
por que nos quererão submissos
seres programados?

Nesse fosso de espanto e mito,
nessa fria massa de ocasos,
por que não paramos de rijo
o fóssil barco?

Com as ferramentas da vida
com os amantes com os amados,
por que logo não explodimos
a frágil máquina?
 
Fique no ouvido o som terrível,
cravem na carne os estilhaços,
antes me quero morto ou sofrido,
porém honrado.

Florisvaldo na década de 60,com Glauber



















































































































terça-feira, 17 de junho de 2014

POEMAS EM NERVAL E EM MALLARMARGENS




            NERVAL é uma revista eletrônica de poesia contemporânea.  Na verdade trata-se de uma edição especial da revista FLAUBERT, que se dedica ao conto.  Ambas merecem ser conhecidas, pela qualidade e ousadia do projeto.  Neste primeiro número, NERVAL reuniu em suas 186 páginas vinte e seis poetas brasileiros destes nossos tempos.  Mariel Reis, seu editor,  assina o Editorial, do qual transcrevo a passagem:

            “Nerval, o nosso herói, provou do cálice de fel.  Eis a nossa reação, plural.  Leitores, meus queridos leitores, adentrem as veredas.  Diverti-los com malabarismos hermenêuticos, com o signo ígneo e com a imagem.  O sangue do poeta são as imagens, li em algum lugar.  Ei-las reunidas aqui caleidoscopicamente para alegrá-los das inúmeras possibilidades da poesia brasileira.”

 Às  páginas  de NERVAL  compareço com oito poemas.  Comigo estão os poetas André Ferraz, Caco Ishak, Claudia Schroeder, Daniel Seidl, Delfin, Demetrio Panarotto, Diego Grando, Everton Behenck, Florisvaldo Mattos, Homero Gomes, Jader Barbosa, Kátia Borges, Laurindo Santarritta, Luciano Lanzilotti, Marcelo Sandman, Márcio-André, Nydia Bonetti, Ramon Nunes Mello, Reinaldo Ramos, Ricardo Pozzo, Roberto Andreoni, Sandro Ornellas, Tagore Suassuna, Waldecy Paulo Pereira e Wilmar Silva.
 
A seguir vai o link para a revista, esperando que vocês gostem e a curtam bastante. 

http://issuu.com/revistaflaubert/docs/nerval004

Pelo convite para frequentar esta bela publicação, agradeço ao poeta amigo Anderson Fonseca, de quem este blog já teve a alegria de publicar um belíssimo poema em uma das primeiras postagens.



           
           Postei também recentemente em Mallarmargens – revista de poesia e arte contemporânea, da qual sou um mallarmago (autor fixo), meus recentes “Treze exercícios de magistério”, com ilustração de Talarico.  Confiram no link: