Mostrando postagens com marcador fescenino. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador fescenino. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

AH, UM SONETO... DO SÉCULO 17 PORTUGUÊS

Quam doce é a um firme enamorado,
Um fingido fugir da doce Dama,
Um dizer que não quer ir para a Cama,
Um ai que me matas, ai malcriado;

Um ai que nos ouvirão, ai que é pecado,
Um ai que minha mãe ouve, e chama,
Um ai de mim que perco honra, e fama,
Um não sejais senhor tão perfiado;

Quam doce é um suar, um cruzar coxas,
Um dar lugar a tudo de cansada,
Um, lembrai-vos Senhor, qual me deixais;

Um encobrir chorosa as nódoas roxas,
Um despedir-se em lágrimas banhada
Considere quem chegar não pode a mais.

                                                    Dr. Antonio Barbosa de Bacelar


In: Maria do Socorro Fernandes de Carvalho.  Poesia de agudeza em Portugal.  EdUSP, 2007.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

DEZ EPIGRAMAS DE MARCIAL POR DÉCIO PIGNATARI

I, 24
Veja, Deciano, aquele homem despenteado,
Cenho cerrado, que até incute medo,
E que só fala dos varões de antigamente:
Casou-se ontem, acredite: ele era a noiva.


I, 46
Se você exclama, Edilo: “Vou gozar –
Depressa!” – o meu tição se esfria, apaga.
Prolongue o ato que eu irei mais rápido.
Para ir depressa, diga: “Devagar”.


I, 57
De que tipo de garota eu gosto, Flaco?
Entre a difícil e a fácil, meio a meio.
A namorada ideal é assim que eu quero:
Não infernize  a minha vida e não me farte.


I, 104
Bem fodida, cantava mal Neném.
Agora, sem um beijo, canta bem.


II, 63
Você depila peito, braços, pernas
E apara em arco os pentelhos.  Dou fé,
Labieno: é pra agradar à namorada
– Mas, e o cu depilado, pra quem é?


II, 73
“O que fazer, de pilequinho?”, indaga Lupe.
O mesmo, sóbria: chupe.


V, 46
Prefiro os beijos que lhe arranco à força:
Sua ira me é mais bela que o seu rosto!
Por isso, eu bato, Diadumeno, e peço,
Mas você não me teme, nem me ama.


VI, 6
Você, que aterra os homens com o pênis
E as bichas com a foice, guarde, Príapo,
Os poucos metros deste chão distante.
Não entrem no pomar velhos fuinhas
Mas deixe passar algum garoto
E os cabelos compridos das meninas.


II, 59
Sou chamado A pequena: um restaurantezinho,
De onde se avista o mausoléu do grande César.
Triclínios, vinhos, rosas, nardo perfumado
E um deus augusto que assinala: a morte é certa.


III, 53
Dispenso o seu rosto
Dispenso o pescoço
Dispenso as duas mãos
Dispenso seus peitos
Dispenso suas coxas
Dispenso sua bunda
Dispenso os quadris

– E para mencionar mais um detalhe,
Dispenso você,  Beatriz.

            Décio sobre Marcial (Marco Valério)

            “Nasceu no ano 40 d.C., em Bílbilis, na hoje província de Saragoça, Espanha.  Foi para Roma em 64, retornando depois de 30 anos à terra natal, onde morreu no ano 104.  Viveu a vida típica de um cliente, homem supostamente livre, que vive de badalações e de prestar serviços aos poderosos, a começar do bestial Domiciano.  Foi cronista social obsceno e pornográfico de seu tempo, por isso mesmo criticado, quando não desdenhado e desprezado.  Seus epigramas, no entanto – mais de um milhar – diostribuídos em 12 livros, vêm atravessando os séculos, influenciando muitos escritores e poetas, entre os quais Rabelais, Quevedo, Gregório de Matos, Bocage.  Com Juvenal, também espanhol e que foi seu amigo, forma a dupla maior da poesia satírica latina.”

In: 31 poetas 214 poemas: Do Rigveda e Safo a Apollinaire. Uma antologia pessoal de poemas traduzidos, com notas e comentários de Décio Pignatari. Editora da Unicamp, 2007.



sábado, 15 de janeiro de 2011

AH, UM SONETO... ESTRAMBÓTICO E LUXURIOSO

Fodamos, meu amor, fodamos presto,
Pois foi para foder que se nasceu.
E se amas o caralho, a cona amo eu:
Sem isto, fora o mundo bem molesto.

Fosse foder após a morte honesto,
“Morramos de foder!” seria o meu
Lema, e Eva e Adão fodíamos por seu
Invento de morrer tão desonesto.

É bem verdade que se esses tratantes
Não comessem do fruto traidor,
Eu sei que ainda fodiam-se os amantes.

Mas caluda e me enfia sem temor
Esse pau, que à minha alma, em seus rompantes,
Faz nascer ou morrer, dela senhor.

                               E se possível  for,
Quisera eu pôr na cona estes colhões
Que de tanto prazer são espiões.


                 Os Sonetos luxuriosos do italiano Pietro Aretino são na verdade estrambotes ou sonetos estrambóticos: aos 14 versos  do soneto acrescentam-se mais 3: o primeiro, curto, deve rimar com o último do soneto propriamente dito; os outros dois, maiores, rimam entre si.O livro de Aretino ganhou no Brasil uma primorosa tradução com estudo crítico de José Paulo Paes, edição da Record, bilíngüe, Sonetos luxuriosos, de onde se extraiu o poema acima.
                               Pietro Aretino (1492-1556)
                               Tradução de José Paulo Paes




               

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A VASELINA

Praça da Ópera: por uma farmácia a dentro
Entra um senhor bem-posto feito um pé-de-vento:
“Estou com pressa”, diz. “”Eu quero vaselina.”
Gentil, o boticário indaga do cliente
                Impaciente
       A que uso se destina
       O graxo ingrediente:
“Se for para o rosto, é melhor levar da fina...
                Qual?
                Que tal
                        Este artigo
        Que o senhor, sem perigo,
                Pode no rosto usar?
“Eu por mim recomendo sempre a boricada.”
E o cliente, a bufar: “Mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”

                         Guillaume Apollinaire
                         tradução de José Paulo Paes (in: Poesia erótica em tradução)