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sábado, 1 de setembro de 2012

AH, UM SONETO... DE CHICO BUARQUE, COM NARA LEÃO NO FAROL DE FARO





Por que me descobriste no abandono?
Com que tortura me arrancaste um beijo?
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono?

Com que mentira abriste meu segredo?
De que romance antigo me roubaste?
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo?

Por que não me deixaste adormecida?
E me indicaste o mar com que navio?
E me deixaste só, com que saída?

Por que desceste ao meu porão sombrio?
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio?

O soneto acima integra a trilha sonora do musical Quando o carnaval chegar, dirigido por Cacá Diegues  em 1972, e estrelado por Nara Leão (casada com Cacá à época), Chico Buarque e Maria Bethânia.  O vídeo é do programa MPBEspecial dirigido por Fernando Faro para a Fundação Padre Anchieta/TV Cultura em 1973.


domingo, 1 de maio de 2011

LUPICÍNIO RODRIGUES NO FAROL DE FARO






            QUEM HÁ DE DIZER
Quem há de dizer
Que quem vocês estão vendo
Naquela mesa bebendo
É o meu querido amor
Reparem bem que
Toda vez que ela fala
Ilumina mais a sala
Do que a luz do refletor
O cabaré se inflama
Quando ela dança
E com a mesma esperança
Todos lhe põem o olhar
E eu, o dono,
Aqui no meu abandono
Espero louco de sono
O cabaré terminar

“Rapaz, leva esta mulher contigo”
Disse uma vez um amigo
Quando nos viu conversar
“Vocês se amam
E o amor deve ser sagrado
O resto deixa de lado
Vai construir o teu lar”
Palavra, quase aceitei o conselho
O mundo, este grande espelho,
Que me fez pensar assim:
Ela nasceu com o destino da lua
Pra todos que andam na rua
Não vai viver só pra mim

In: A música brasileira por seus autores e intérpretes. v.1 - SESC-SP


            O mau-gosto é uma questão complicada em arte.  Pode ser detectado na imperícia, na inépcia, na falta de formação consistente ao lidar com técnicas e  materiais, na “naïveté”, nas formas cediçamente degradadas de se buscar atingir o “gosto comum” médio, na atração pelo “trash”, enfim, pode se originar de uma porção de fatores, mas não é esta a sua principal complicação, e sim porque esbarra de forma inexorável no lado do receptor, que é quem decide, discerne, descortina, rebaixa, desqualifica o que assim é taxado. 
            Relendo o que escrevi aí em cima, não gosto. Ficou rombudo. Mas não vou apagar não. Vou em frente e vou no meio de todos os riscos.  Digo que enorme parte do que é veiculado pela mídia atualmente no Brasil é de um mau-gosto monumentalizado, um tsunami de breguice, no qual o esforço de pescar algo que se mantenha vivo e vigoroso demanda paciência na hora de separar o joio do trigo e optar... pelo joio – que é como Caetano uma vez respondeu à acusação de que gravava muitas banalidades.
            Releio, reescrevo, releio.  Está só um pouquinho menos rombudo.  Dane-se: quero falar aqui de Lupicínio, e quero que o meu leitor seja mais uma vez ouvinte do que postei aqui na vitrolinha.  Porque Lupicínio em certo sentido é uma radicalização do mau-gosto. E é estupendo compositor, o cantor por excelência do sentimento da “cornitude”, como dele escreveu Augusto de Campos em 1967.  Num texto inaugural de apreciação da obra lupicínica (o adjetivo é estranhamente apropriado) feito por um dos intelectuais mais “alta cultura” do Brasil, Augusto acerta na mosca em vários momentos (em alguns outros, já não acho tanto), como quando diz que após a onda “clean, “cool” da bossa nova, a obra de Lupicínio passa a ser olhada retrospectivamente “relegada à faixa do samba-canção bolerizado e descaracterizado, quando o seu caso não é realmente esse.  Suas músicas podem lidar com o banal, mas não são banais.” O universo muito particular de Lupicínio é curioso porque justamente não é nada de muito particular em ambiência: é o “bas-fond”, isto é, o cabaré, o puteiro, o pé-sujo, lugares onde transitam seus personagens amargurados, vingativos, ressentidos ou às vezes tão-somente resignados, cada um com sua “mala suerte”.  Particular é sua arte não-sublimada, carregada nas tintas, suas letras recheadas de senso comum que explodem aqui e ali em imagens surpreendentes, que passam uma incrível veracidade.  Sobre isso, Luiz Tatit escreveu: “O talento desse compositor manifesta-se, sobretudo, na descoberta de formas específicas para traduzir o lugar-comum visando, não à particularidade, mas à ampliação\o do consenso.  Ele procura fisgar o essencial de sua experiência para que mais gente sinta a autenticidade dos seus sentimentos e mais gente se identifique com sua posição narrativa.”
            Como um exemplo do que Tatit acertadamente diz veja-se na canção postada a posição narrativa do eu que canta: ele dirige-se àqueles todos que estão no cabaret para contar sua vida com a mulher que todos eles admiram: “vocês estão vendo...” o mundo, por sua vez,  lhe fala pelo conselho do amigo, para que preserve o “amor sagrado”, que ele, no entanto, só é capaz de preservar de maneira bem pouco sagrada, como “o dono” daquela que “dança no cabaré” (aqui vai uma concessão ao decoro).  Esse “dono” assumido tem a ver com o indisfarçável (que não quer mesmo se disfarçar) mau-gosto de que eu falei antes.  Os versos acasalam a vulgaridade da cena com o inusitado das imagens: “toda vez que ela fala ilumina mais a sala do que a luz do refletor”.  O respeito à mulher que é de “todos que andam na rua” é um respeito a si próprio, para evitar o afastamento que provavelmente lhe seria fatal.
            Na entrevista concedia a Fernando Faro em 1973, de onde pincei o material desta postagem, todas as declarações de Lupicínio são impressionantes.  Com sua voz que se equilibra entre mansa e insidiosa, Lupi conta estórias incríveis a respeito de quase todas as canções que canta.  A maneira de falar, de contar as desilusões que motivaram cada canção mantém perfeita continuidade com o que ele canta em seguida.  Optei por uma canção sobre a qual ele nada fala.  Vale a pena conhecer o CD.
            Por fim, vale registrar que Lupicínio fascina a música brasileira pós-bossa nova com uma efetiva força de permanência.  De Paulinho da Viola, que gravou magistralmente “Nervos de aço” e sempre a canta em seus shows (“eu só sei é que quando a vejo me dá um desejo de morte ou de dor”), a Arrigo Barnabé (que anda levando em vários palcos – que eu saiba ainda não gravou em CD, embora haja vídeos por aí pelos youtube – a “Caixa de ódio”, projeto dedicado a Lupi), passando por Caetano, Bethânia, Gal, Gil, Jards Macalé e ainda Arnaldo Antunes, que gravou num CD “Judiaria” (que tem o verso terrível “estou lhe mostrando a porta da rua para que você saia sem eu lhe bater”), e outros que provavelmente desconheço ou estou esquecendo, Lupi continua vivo.  Certamente por muito tempo ainda. E ainda bem.  

quinta-feira, 31 de março de 2011

BETHÂNIA (E CAETANO), CAETANO E BETHÂNIA VELOSO

Entendo e em princípio sou solidário com quem se incomoda com o aporte de verbas públicas em projetos meramente pessoais, voltados para o próprio umbigo, bem como com o favorecimento injustificável de figurões públicos preocupados em lançar, por exemplo, CDs que apenas dêem continuidade a uma carreira no show-bizz a despeito de ter um público conquistado que lhes garanta em princípio a boa vendagem do produto lançado. OK,esse tipo de preocupação é legítima, poder-se-ia mesmo dizer que é um dever de cidadania, justificando-se a indignação e, se for o caso, a denúncia  e tal.
            Quem acha que Maria Bethânia e o caso de seu blog se encaixam no modelo descrito acima, bem... aí comete,  no mínimo – em caso de boa-fé – um erro de avaliação e/ou  de informação. Como as pessoas que se ocupam de tais questões não são muitas neste país de rala cidadania, não me parece muito inteligente pensar nesse caso em falta de informação. Na maioria dos casos, trata-se de ódio e ressentimento mesmo.
            Quando o assunto do “O mundo precisa de poesia” (o tal “blog da Bethânia”) pipocou na imprensa e na net, fiquei de saída a favor do projeto, sem conhecê-lo e sem conhecer os pormenores do caso. Quero dizer, fui parcial de saída mesmo. Isso porque simplesmente envolvia o nome de Bethânia e de Hermano Vianna, duas figuras públicas que na minha avaliação pessoal – conheço Bethânia, como “todo Brasil”, de shows e discos, Hermano conheço de textos e de documentários produzidos para a TV, não conheço pessoalmente nenhum dos dois – merecem crédito. E também assim que soube que a notícia partira da Folha de S.Paulo isso só serviu para aumentar minha confiança na lisura das pessoas envolvidas, já que a Folha é – como toda a imprensa, aliás, em grau menor ou maior – permanentemente depositária da minha desconfiança. Simples assim.  E simples assim dei meu pitaco no facebook, acrescentando que procuraria me informar mais sobre o imbróglio  e que se fosse o caso reveria minha avaliação.  Me informei o mais que consegui e continuei pensando a mesma coisa,  apesar de reconhecer que o bom de essa barulheira ter vindo à tona é que alguns pontos que merecem discussão na política cultural de Estado foram levantados.  Minha amiga Verônica Couto inclusive me linkou pelo facebook o que considero ser uma equilibrada e percuciente abordagem dos dessas questões, apesar de  algumas discordâncias pontuais e de alguns argumentos que no meu entendimento não ficaram muito claros. . Posto aqui o link para o blog do Doutor Caneta, recomendando sua atenta leitura: http://doutorcaneta.blogspot.com/2011/03/maria-bethania-e-os-consagrados-pelo.html.  A defesa de uma meritrocracia democrática para nomes ainda não sedimentados no cenário cultural me parece ser o maior acerto de seu texto – em tempo, o blog é assinado por “uma espécie de entidade psicológica que habita o cérebro de um cara chamado Newton Cannito”.  E eu não conheço pessoalmente nenhum dos dois.
            Quanto aos ódios, rancores, ressentimentos... bem há muito a ser dito sobre isso.  Em certa medida, o Cannito no link aí acima enquadra exemplarmente bem a questão em termos objetivos, e de uma objetividade de quem pelo visto já lidou bem de perto com essas questões, uma vez que já foi Secretário de Audiovisual do MinC, conforme achei na web.
            Mas há mesmo outras questões não menos objetivas talvez, mas mais difíceis de precisar objetivamente,  como fatores que ajudariam a entender  a reação violenta ao projeto de Hermano (é mais exato chamá-lo assim do que “blog da Bethânia”, pelo simples fato de que esta última expressão já se contaminou dos tais rancores). Comentarei brevemente algumas delas. Alinho num primeiro bloco os elementos de mais longa duração, que expressariam um ressentimento de mais largo fôlego:
1.    A conexão imediata Bethânia-Caetano, e, como um prolongamento dessa conexão, o que é extensivo às propostas do Tropicalismo, naquilo em que de muito fundo o barulho tropicalista foi mexer e convulsionar: o projeto nacional-popular das esquerdas nos anos 60. As propostas nacionalistas identificadas a essa corrente estão ainda aí, muitos de seus personagens são figuras atuantes na cena pública brasileira – em geral da mesma faixa etária de Caetano ou um pouco mais velhos – e não absorveram os golpes desfechados pelas propostas tropicalistas (o “debate interrompido em 1968”, na formulação de Wisnik)  que, diga-se de passagem, parecem ser ainda o motor que impulsiona boa parte da atuação dos “baianos”. Wisnik aliás  chamou a atenção oportunamente para o fato de que nos projetos de Emir Sader para a Casa de Rui Barbosa, com o fito  de transformá-la num fórum de discussões politizadas, o sociólogo, ao  enfocar a necessidade de reflexão sobre o Brasil nos anos 50-60,  listou “CPC, Bossa Nova, Iseb, teatro, Darcy Ribeiro”, deixando de fora justo o tropicalismo. Sintomático ainda que o mesmo Sader, perguntado sobre as declarações de Caetano,  que em sua coluna semanal no Globo, dissera ver com desconfiança a nomeação de Sader para a Casa de Rui,  declarou em entrevista que Caetano não tinha nenhuma influência, “a não ser entre seus amigos de praia”.  Sem dúvida, muito mais que um erro de avaliação, é o tipo de declaração sintomática desse ressentimento.  Curioso e tristemente compreensível é que de uma conexão Bethânia-Caetano se pode passar nesse nível a uma conexão que envolve os “baianos”, como se diz, carregando no pejorativo.  Por mais que se tenham desdobrado e se transformado em vários níveis, como parece indicar a recente discordância pública entre Caetano e Gil quanto à questão da legislação sobre direitos autorais (que no entanto não teve os desdobramentos de “ultimate fighting’ que a imprensa e muita gente esperava), o fato é que essa conexão ainda se dá automaticamente para que os representantes do nacional-popular (alguns deles, aliás, bons artistas) tenham a quem ou a quê demonizar. Curioso também que em sua trajetória individual como artista, a própria Bethânia muitas vezes se aproximou mais das propostas do nacional-popular do que daquelas de fundo tropicalista. Não custa lembrar (para os mais novos): Bethânia não participou do movimento.
2.    A conexão Bethânia-Caetano é feita, sempre em tom recriminatório, ainda por setores se não exatamente identificados ao nacional-popular (que constituem, quero crer, a maior parte da “intelectualidade – soi disant –  orgânica” petista), pode ser definida como de corte mais, digamos, adorniano, resistente “por definição”,  ao que não é apocalíptico na consideração da cultura midiática.
3.    Se quisermos alinhar os setores mais arraigadamente presos não à esquerda mas à direita – uso os termos para uma fluidez mínima do texto – aí seria preciso considerar ainda tudo o que de reacionário e de conservador se abriga,  disfarçadamente ou não, sob o rótulo, figuras francamente reacionárias ou apenas conservadoras (novos e velhos), que não se conformam – e aí o ressentimento é até mais antigo – de ver a praia de seu lazer (não apenas cultural) invadida há tanto tempo pelos doces bárbaros.
Mas penso que é preciso considerar  ainda um outro bloco de acusações, movidas por instâncias mais superficiais mas também mais barulhentas,  porque são a maioria do que rola na web. Ela se faz presente em blogs, no youtube, no facebook, batendo em geral na tecla do “por que tem dinheiro pra Bethânia mas não tem pra mim?”  É uma forma “selvagem” de exercer a cidadania em rede, na qual o ressentimento não é no entanto menor, assumindo mesmo formas assustadoramente grosseiras e mal-humoradas. Aqui me incomodam particularmente os poetas da rede, que rarissimamente freqüento, já que nunca tive por hábito freqüentá-los sequer pessoalmente.  Lembro de uma entrevista do García Marquez dos anos 70 (no extinto Versus ou mesmo no –ex), que li muito jovem,  e que me impressionou então em especial quando ele dizia que para as revistas de literatura de colaboração aberta aos leitores ou mesmo para editores que se propunham publicar novos autores não havia nada pior do que os poetas.  “Os poetas formam um verdadeiro esquadrão da morte”, lembro bem da expressão empregada, porque a recusa em publicar um poema de um autor novo repercutia em geral como “censura”, “bloqueio a novos valores”, “esclerose acadêmica” e a grita era geral e incessante.  Lembro ainda das palavras mais doces de Bandeira numa crônica, ao receber em casa adolescentes que lhes levaram versos: “Aos quinze anos todo mundo é poeta”.  Pois bem, acho que esse infantilismo ou adolescência se prolonga sobremaneira hoje – ou terá sido sempre assim? Seja como for, o fato de o projeto envolver poesia não me parece ser de pequena importância nessa grita geral.  É cômico ver poetas que de seus blogs ou mesmo das redes de relacionamento reclamam da “falta de oportunidades”, da “escassez de leitores (entenda-se: verbas)” para seus projetos pessoais e todos,  em geral geniais, se arrogando mais competência do que Bethânia em assuntos de poesia.  É de se pensar no número de vídeos amadores – é só olhar, de longe,  a grande maioria do que são os “recitais ou saraus de poesia”  abundantes por aí – que inundariam a rede a cargo desses “arrombadores de cânone”, que só brigam com o cânone porque ninguém reconhece que eles deveriam estar lá. Essa turma anda em geral assanhadíssima “brincando de Arnaldo Antunes”, como diz uma amiga espantada com o deslumbramento que os acomete.
Pois bem: no que toca a um tom mais pessoal nesta postagem aqui, devo dizer que não resta a menor dúvida de que, pelo projeto, “O mundo precisa de poesia” será – ou seria? – um projeto do mais alto nível de realização.  Não sei que critérios norteariam a escolha de poetas e poemas lidos, mas sei que o projeto é enobrecedor da atividade poética – criadora – como um todo, voltado para disponibilização em escolas da rede pública e centros comunitários.  Pelo que andei pesquisando também, os preços estão dentro do que seria uma “realidade de mercado” (na qual vivemos, coisa que aliás o tropicalismo deixou claro, o que faz parte do que não foi digerido): Maria Bethânia tem cacife sim, dentro dessa realidade (sobre as questões porventura incômodas quanto a isso, volto a remeter o leitor ao link lá de cima), para pedir o que pede.  Dentre os mais “selvagens” a impressão que se tem é que não se conhece praticamente nada do que foi a trajetória de Bethânia – e de Caetano – ao longo de seus mais de quarenta anos de estrada, o quanto do que existe hoje de fértil, produtivo, esclarecedor e problematizador, rico (em mais de um sentido) no show-bizz e na cultura que se faz no Brasil se deve a eles. Não que isso os ponha acima do bem e do mal, longe disso, mesmo porque – é convicção minha – eles fizeram muito mais bem do que mal a todos nós.  Assim, em tom mais pessoal ainda digo que nem sempre gosto de Bethânia dizendo poesia.  Ainda adolescente a vi por mais de uma vez nas primeiras filas do Teatro da Praia no show “Rosa dos Ventos” dizendo o Menino Jesus de Alberto Caeiro, poema que eu já tinha lido e que me incentivou a ler mais e mais essa obra espantosa.  Mas às vezes gosto de como ela diz os textos, às vezes não.  E isso não tem a menor importância, claro.
       E terá alguma importância eu estar aqui escrevendo tudo isso?  Engraçado é que a pergunta acaba pintando mesmo.  Ora, qualquer coisa que eu escreva aqui tem importância para mim e para o círculo pequeno dos meus leitores.  Não move o mundo.  Pelos meus seguidores e em conversas fora daqui com parte deles, sei que tenho um círculo de leitores fiéis, em geral as pessoas que gostam de conviver comigo extra-blog, incluindo aí alunos e ex-alunos, convívio este que ficou mais escasso desde que vim morar aqui neste brejo.  Mas mesmo estes leitores fiéis são minoria, entre seguidores e não-seguidores.  Aliás, entre os seguidores, em número que considero surpreendentemente alto, há uns dez, ou talvez mais, que não conheço pessoalmente – ou apenas talvez não consiga identificar.  Devem ter dado uma pesquisada no Google, toparam com algum marcador que tinha a ver com o que buscavam, leram, gostaram do que leram e devem me freqüentar (me espanta, e já escrevi sobre isso aqui, que eu tenha leitores na Croácia, na Dinamarca, em Cingapore, na Austrália...), o que me deixa muito feliz.  É para manter um tipo de conversa que se tem um blog, dentre outras razões. Então posto aqui este texto como posto poemas meus e alheios, como escrevo sobre assuntos que vão da “comida explícita” a Baudelaire e Auden, passando por Blecaute, Pelé e Jorge Mautner.  Essa liberdade “de pauta”, por assim dizer,  em boa medida, aliás, se deve no Brasil ao trânsito – que chegou mesmo à universidade, e isto aqui não é e não quer ser um blog acadêmico! – arduamente aberto pelos irmãos Veloso.