Mostrando postagens com marcador Alphonsus de Guimaraens. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alphonsus de Guimaraens. Mostrar todas as postagens

domingo, 16 de novembro de 2014

AH, UM SONETO... DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Iberê Camargo (foto de Fabio Del-Re)


Muitas vezes, ao poente, a minh’alma de enfermo
É triste: o enterro passa, os vultos vão, de tochas
Que tremeluzem como estrelas rubras, do ermo
De um céu que se prolonga entre montes e rochas.

Segues naquele esquife, um anjo vem dizer-mo.
Uma essa erguida no alto, enfeitada de frouxas
Cortinas de galões amarelos, é o termo
Do caminho talhado entre açucenas roxas.

Triste sonho de quem vive a sonhar na vida
Com a eterna e doce paz de uma cova esquecida,
E traz no peito morto uma alma quase morta...

Suplício imemorial de quem estando vivo,
A receber no olhar todo o céu compassivo,
Vê passar o seu próprio enterro pela porta!

 

Alphonsus de Guimaraens.  Melhores poemas. 4 ed. SP: Global, 2001.