Mostrando postagens com marcador Elesbão Ribeiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Elesbão Ribeiro. Mostrar todas as postagens

domingo, 1 de outubro de 2017

CINCO POEMAS DE ELESBÃO RIBEIRO (1946)

MACHADIANA

tantas missas assisti
tantos braços perdi



TERAPIA

é mesmo impagável a minha amada
trouxe-me para casa do hospital
tinha operado o joelho
trouxe uma garrafa de vinho
acendeu um charuto
abriu as pernas
anda
vamos cuidar desse joelho



PROJEÇÕES

os deuses que os homens criam são mais bonitos
mais garbosos mais sublimes
do que os homens que os deuses criam




De “Cantigas para ninar raparigas românticas tanto quanto eu”

5

de tanto ouvir histórias
que lhe contava a mãe
andava a pobre menina pobre
para desespero do pai
pobre sapateiro da aldeia
a caçar sapos pelos charcos

não percas tempo menina
o sapo que procurar é príncipe
no palácio real
disse-lhe a bruxa

se queres tanto beijar o príncipe
faço-te uma bela princesa
assim fez

foi a pobre menina rica princesa
beijar o príncipe
o rico príncipe voltou a sapo

então não sabias que sou má
disse a bruxa à pobre menina



PARTILHAMENTO

pegou-a nua na cama com outro
nu também
nus estavam nus saíram correndo
ficou fulo da vida
queria tanto partilhar


         Os três primeiros poemas, de Estação Piedade (2013); os outros dois são de Namorada anarquista (2014), todos editados pela Editora Texto Território.  Neste dia 03 de outubro, eu e Elesbão lançaremos nossos livros mais recentes, respectivamente Despreparação para a morte e Abnegação (v. capa), no auditório do PAT, na UFRRJ, campus Seropédica às 18:00 h, com leitura de poemas e debate. Os dois livros são editados pela Editora Texto Território.

  

sábado, 29 de março de 2014

ELESBÃO RIBEIRO TRÊS VEZES



concebido sem pecado

ao verem-se diante do filho concebido sem pecado
outros filhos de deus sentiram-se sujos

filhos de putas
porque concebidos por conjunção carnal

filhos de putas
revoltados em parte
pelo enxovalhamento em que deus pai os jogara

filhos de putas
e por inveja de outra parte
pelo irmão concebido sem pecado

cobriram de porrada o filho de deus

 

baudelairiana

diz a minha bela
doce e graciosa
querida e amada
precisamos ter pobres
precisa haver pobres

pergunta-me então
quem há de varrer as ruas
por onde passamos
 

 
concordância

a minha namorada não deve gostar de mim
tem lá suas razões
é doutora por cá e pós por lá
poliglota fala inglês francês e português
 
não sabe cozinhar
propus-lhe um trato
eu cozinho e tu lavas o prato
não aceitou
medo da louça lhe estragar as unhas
 
definitivamente não sei

 

                        Elesbão Ribeiro.  Estação Piedade. Rio: TextoTerritório, 2013.