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domingo, 22 de março de 2015

GIORGIO CAPRONI


TUDO



         Queimaram tudo.
A igreja. A escola.
O município.


                   Tudo.


         Até a relva.


                            Até,
com o campo-santo, a fumaça
tênue da chaminé
da fornalha.


                                      Ilesa,
alvorece apenas a areia
e a água: a água que treme
à minha voz, e espelha
a esqualidez de um grito
sem nascedouro.


                            A gente
não sabe mais onde fica.

        Queimada também a tasca.

Também o ônibus.

                                      Tudo.


         Não resta sequer o luto,
no cinza, a esperar a parva
(inexistente) palavra.


                                           Tradução de Aurora Fornoni Bernardini





Devastação em Gaza (Thomas Coex/AFP)


TUTTO

  

         Hanno bruciato tutto.
La chiesa. La scuola.
Il municipio.
 

                   Tutto.
 

         Anche l’erba.
 

                            Anche,
col camposanto, il fumo
tenero della ciminiera
della fornace.
 

                                      Illesa,
albeggia sola la rena
e l’acqua: l’acqua que trema
alla mia voce, e specchia
lo squallore d’un grido
senza sorgente.
 

                            La gente
non sai più dove sai.
 

         Bruciata anche l’osteria.
 

Anche la corriera.
                                      Tutto.
 

         Non resta nemmeno il luto,
nel grigio, ad aspettar la sola
(inesistente) parola.




A coisa perdida.  Agamben comenta Caproni.  Organização e tradução de Aurora Fornoni Bernardini.  Florianópolis: Editora UFSC, 2011.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

GIORGIO CAPRONI


O DELFIM

Para Greg Gatenby

      Por onde salte o delfim
(o mar lhe pertence todo,
dizem, do Oceano até
o Mediterrâneo), vivo
vês lá o vislumbre de Deus
que surge e some, nele hílare
acrobata de arguto rostro.


     É o malabarista de nosso
inquieto destino – o emblema
do Outro que com afano
buscamos, e que
(o delfim é alegre – é o álacre
companheiro da navegação)
diverte-se (nos exorta)
a fundir a negação
(um mergulho subáqueo – um vôo
elegante e improviso
num brancor de espumas)
com o grito da afirmação.

                                                       
                                         Tradução de Aurora Fornoni Bernardini

 

 

 
 



IL DELFINO
 Dovunque balza il delfino
(il maré gli appartiene tutto,
dicono, dall’Oceano fino
al Mediterrâneo), vivo
là vedi il guizzo di Dio
che appare e scompae, in lui ilare
acrobata dall’arguto rostro.




È il giocoliere del nostro
inquieto destino – l’emblema

dell’Altro che cerchiamo
com affanno, e che
(il delfino è allegro – è il gaio
compagno d’ogni navigazione)
si diverte (ci esorta)
a fondere la negazione
(um tuffo subacqueo – um volo
elegante e improvviso
in um biancore di spume)
col grido dell’affermazione.
 
 
            In: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni.  Organização e tradução de Aurora Fornoni Bernardini.  Florianópolis: Editora da UFSC, 2011
 


sexta-feira, 13 de julho de 2012

GIORGIO CAPRONI



APÓSTROFE
A UM IMPACIENTE POR EMBARCAR

       – Se acalme. Aonde acha que vai?
Uma certeza  lhe dou.
Jamais poderá chegar,
acredite, aonde já chegou.

                                   Tradução de Aurora Fornoni Bernardini


APOSTROFE
A UM IMPAZIENTE D’IMBARCO

         –  Si calmi.  Dove vuol mai andare?
Um ponto è assodato.
Lei non potrà mai arrivare,
mi creda, dove’è già arrivato.


 In: A coisa perdida: Agambem comenta Caproni. organização e tradução de Aurora Fornoni Bernardini. Ed. UFSC


sábado, 20 de agosto de 2011

GIORGIO CAPRONI: DOIS POEMAS

NO ESTRIBO
“Vou-me”, disse.
“O que lhes deixo é tudo
o que levo em boa hora.
Tenham saúde. Cuidem
de si mais do que
de mim cuidei eu.
Vou-me para onde,
há tempo, Deus foi-se embora.”


SULLA STAFFA
“Me ne vado”, disse.
Quello che vi lascio, è tutto
quello che mi porto via.
Statemi sani.  Abbiate
cura di voi, più di quanta
di me non ne ho avuta io.
Me ne vado dove,
da tempo, già se n’è andato Dio.”



CONCLUSÃO QUASE NO FIM DA SUBIDA
- Senhor, deve voltar ao vale.
O senhor procura à sua frente
o que deixou para trás.


CONCLUSIONE QUASE AL LIMITE DELLA SALITA
- Signore, deve tornare a valle.
Lei cerca davanti a sé
ciò che há lasciato alle spalle.


 In: A coisa perdida: Agambem comenta Caproni. organização e tradução de Aurora Fornoni Bernardini. Ed. UFSC