sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DE POETAS SOBRE POESIA

Carlos Drummond de Andrade: Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.  Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e                 compromissos.
(In: Autobiografia para uma revista )




Manuel Bandeira: Compreendi, ainda antes da lição de Mallarmé, que a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com idéias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia.
                                                (In: Itinerário de Pasárgada)

João Cabral de Melo Neto:  
Eu não quero ser embalado, quero ser acordado.  De forma que eu procuro aquelas coisas que aumentem minha consciência da realidade, consciência de mim mesmo e do que eu estou fazendo. Eu procuro uma poesia que fosse como uma cafeína. Uma poesia que fosse um excitante, um estimulante, e não um calmante. De forma que é daí que vem toda a minha imagística valorizando o áspero.  Se você está dirigindo um automóvel  num calçamento de asfalto impecável (...), que não tenha buracos, você acaba adormecendo na direção. (...) Agora, se você for dirigir numa estada irregular, de paralelepípedos, a trepidação daquilo não deixa você dormir.
                                            (In: Entrevista para 34 Letras)


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