quinta-feira, 25 de julho de 2013

AH, UM SONETO... DE CARLOS DE OLIVEIRA

Esta estação do ano podes -la
em mim; folhas caindo ou já caídas;
ramos que o frêmito do frio gela;
árvore em ruína, aves despedidas.
E podes ver em mim, crepuscular,
o dia que se extingue sobre o  poente,
com a noite sem astros a anunciar
o repouso da morte, gradualmente.
Ou podes ver o lume extraordinário,
morrendo do que vive: a claridade,
deitado sobre o leito mortuário
que é a cinza da sua mocidade.
            Eis o que torna o teu amor mais forte:
            amar quem está tão próximo da morte.

(dos “Sonetos de Shakespeare reescritos em português”)


In: Carlos de Oliveira.  Trabalho poético (primeiro volume).  Lisboa: Sá da Costa, s/d.
Ilustração de Talarico

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